COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
VELHA REBELIÃO COM NOVO NOME
Não é tarefa fácil definir ou
identificar o globalismo, porque, apesar de ser movido por um único espírito —
o do Anticristo —, este projeto apresenta-se com múltiplos tentáculos, alguns
dos quais antagônicos entre si. Suas vertentes também são múltiplas: econômicas,
religiosas, científicas e políticas. Mas, pelo que observamos, quem está no
comando desse empreendimento não se preocupa com as divergências havidas entre
seus tentáculos e vertentes, porque sabe muito bem como orquestrar toda essa
dialética até que uma síntese se torne possível.
Todavia, na condição de servos
de Deus, obrigamo-nos a definir e a identificar o globalismo, a fim de não
tomarmos parte nas obras infrutuosas das trevas, pois um dos objetivos desse
projeto, claramente satânico, é apropriar-se também da Igreja de Cristo.
1.
Definindo o globalismo. O globalismo não é uma
mera globalização, porque esta é tão inevitável hoje quanto o foi outrora; é
impossível impedir os seres humanos de interagirem-se entre si. Relacionamentos
diplomáticos, comerciais e religiosos sempre existiram desde os impérios dos
rios Tigre e Eufrates até as potências do Volga e do Potomac. Logo, a
globalização é necessária para o desenvolvimento do ser humano, pois ajuda a
povoar e a integrar o planeta. Aliás, a Grande Comissão é, em sua premissa
básica, uma ordenança global, pois o Senhor Jesus nos ordena a evangelizar de
Jerusalém aos confins da Terra (At 1.8).
O globalismo, entretanto, é uma
doutrina que, contrapondo-se à vinda do Reino de Deus à Terra, busca arregimentar
todas as instituições humanas, desde as políticas às religiosas, sob um único
governo: o do Anticristo, conforme escreve Paulo aos irmãos de Tessalônica (2
Ts 2.1-12).
Logo, não podemos empregar o
termo “globalismo” como sinônimo da palavra “globalização”, porque, no contexto
que ora analisamos, não há sinonímia alguma entre ambos. Por esse motivo,
defini-lo-emos como a doutrina que, apesar de possuir variadas matrizes, tem
como objetivo dominar todas as instituições humanas e, em seguida, congregar
toda a humanidade em torno de um governante mundial: o Anticristo. Tal plano,
como veremos mais adiante, acha-se revelado claramente no Apocalipse de
Jesus.
2.
Seus objetivos básicos. No tópico anterior, conseguimos definir razoavelmente o globalismo e
revelar o seu principal objetivo. Agora, busquemos especificar quais as
verdadeiras metas desse projeto que, conforme já dissemos, tem pelo menos seis
mil anos de história. Portanto, os súditos do príncipe deste mundo contam com
experiências e ensaios acumulados em vários milênios de rebeliões contra o
Senhor. Não lhes falta nem teologia, nem teoria política; sua expertise é
formidável.
Nas entrelinhas dos últimos
acontecimentos, inferimos que o globalismo vem trabalhando, sutil e habilmente,
a política, a religião, a economia e a cultura, visando dominá-las a fim de
apressar a ascensão do personagem que, na Bíblia, aparece como o homem do
pecado (2 Ts 2.3).
Em que pesem os aparentes
confrontos entre o Oriente e o Ocidente e entre o Norte e o Sul, as nações vêm
sendo orquestradas, para que aceitem, sem contestação alguma, a ascensão de um
potentado mundial. Na realidade, os governos perceberam que os seus modelos
políticos, quer de direita, quer de esquerda, já não funcionam como no
princípio; fracassaram na essência e na forma. Tal mandatário, portanto,
estaria acima dos órgãos mais poderosos como as Nações Unidas e a União
Europeia. Vê-se, pois, que o príncipe deste mundo, ora agindo como Diabo,
jogando uma nação contra outra, ora agindo como Satanás, confrontando a todas,
cria uma dialética, que, no final, resultará numa síntese já revelada na
Bíblia: o governo do Anticristo.
O Anticristo precisará, a fim de
lhe sustentar o governo, de uma assessoria religiosa, visando a construção de
uma mística em torno de sua pessoa. Já cercado de mitologia, não lhe será
difícil impor as políticas mais iníquas, absurdas e genocidas. Eis porque,
desde já, busca ele unificar todas as religiões, por mais antagônicas e
irreconciliáveis, para que o seu globalismo seja bem-sucedido. Não vamos, por
ora, entrar em mais detalhes a esse respeito, porque ainda voltaremos a falar
no assunto. Por enquanto, basta sabermos que os globalistas estão interessados
em todas as instituições humanas, principalmente as religiosas.
Em todas as eras, a economia
sempre exerceu forte pressão nas decisões humanas. Haja vista o que aconteceu
na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial. A inflação, naquele país, a partir
de 1918, tornou-se de tal forma incontrolável, que o operário precisava de uma
sacola de dinheiro para comprar um naco de pão. Aqui, meu querido leitor, não
vai hipérbole alguma. Nesse clima de desespero, não foi difícil a Adolf Hitler
roubar o coração da culta e inquiridora nação germânica. E, ali, entre
cientistas, filósofos e teólogos, instaurou o seu nacional socialismo que,
redundando na Segunda Guerra Mundial, causaria a morte de 60 milhões de
pessoas. Os ideólogos do globalismo sabem que, pelo estômago, poderão dominar o
mundo. Aliás, o controle da economia é um dos objetivos da Besta, conforme
lemos no capítulo 13 de Apocalipse. Hoje, ensaia-se a união de todas as
empresas numa imensa e formidável corporação, que, aliada à política e à
religião globais, darão todo o suporte ao governante mundial.
Ora, com o domínio da política,
da religião e da economia, não será difícil ao globalismo uniformizar todas as
culturas do mundo, numa monolítico cultural. E, depois, já com uma cultura
unificada, tentarão seus ideólogos impor à humanidade um único idioma,
forçando-a a retroceder à Torre de Babel. A fim de alcançar seus intentos,
vandalizam impiedosamente todas as instituições já consagradas. Quer na
literatura, quer na música, seja nas artes, seja no mais humilde artesanato, a
desconstrução de identidades nacionais vem acelerando-se em prol de uma cultura
satânica, deformada e anticristã. Mas, como já dissemos, o globalismo não é um
fenômeno novo; é algo tão velho quanto a antiga serpente, segundo no-lo mostra
a História Sagrada e a profana.
Texto extraído da obra “A Raça Humana: Origem, Queda e Redenção”,
editada pela CPAD.
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Na sequência do estudo da raça
humana, estudaremos hoje o primeiro projeto de globalismo, ocorrido na
comunidade única pós-diluviana
A dispensação do governo humano
terminou com a rebelião das nações contra Deus.
I – A DESCENDÊNCIA DE NOÉ
Ao firmar o pacto com Noé, o
Senhor mandou que Noé e seus filhos frutificassem, multiplicassem e enchessem a
terra (Gn.9:1),
reproduzindo, assim, o mesmo propósito que havia feito com o primeiro casal
(Gn.1:28), tendo, ainda aumentado o domínio do homem sobre a criação terrena
(Gn.9:2-4).
Este gesto divino traz-nos duas
importantes lições. A primeira é a de que Deus não muda (Ml.2:6). O mesmo propósito
apresentado ao primeiro casal é renovado a Noé e sua família, a mostrar que Deus
é o mesmo.
A segunda lição é a de que Deus
é benigno, sempre quer bem
ao homem e demonstra amá-lo intensamente. Depois de toda a tragédia da rejeição
de Deus pela humanidade antediluviana, Deus demonstra Sua boa vontade,
ampliando o domínio do homem sobre a criação terrena, a ponto de impor pavor e
terror dos demais seres em relação ao ser humano, determinar-lhe a
administração da justiça entre os seus semelhantes e, além disso, alterar a
própria dieta do homem, incluindo a carne, algo necessário ante a nova
configuração climática do planeta.
O Senhor mostra, assim, Seu amor
para com os seres humanos, Sua boa vontade, Seu interesse em ter comunhão com o
ser humano e Seu convite para que o homem Lhe servisse.
No entanto, cedo, já na
família de Noé, esses compromissos assumidos pelo homem já começaram a ser
quebrados, com o desprezo das coisas espirituais em detrimento das materiais,
como ficou evidenciado no episódio da embriaguez de Noé e da desonra de Cão
(Gn.9:20-27).
Temos aqui já uma falha nos
compromissos humanos nesta terceira dispensação no tocante à frutificação, pois, como já tivemos ocasião
de verificar neste trimestre, a frutificação tem a ver com a vida espiritual do
ser humano. Noé, que deveria abençoar, acabou por amaldiçoar Canaã, o quarto
filho de Cão, consumando, deste modo, uma circunstância de desunião e conflito
no seio de sua família, algo que não é obra do Espírito, mas, sim, obra da
carne (Gl.5:19-21). Não se estava, pois, a produzir frutos de justiça.
Com relação à ordem de
multiplicação, esta foi devidamente cumprida pelos filhos de Noé, consoante se verifica do teor
do capítulo 10 do livro de Gênesis, quando se tem a chamada “tabela das
nações”, quando o Senhor mostra a origem de todas as nações existentes na
Terra. Os filhos de Noé geraram filhos e, assim, cumpriram o propósito da
multiplicação.
No entanto, vemos que os
filhos de Noé, ao contrário do determinado por Deus, que os havia mandado
encher a Terra (Gn.9:1), mantiveram-se na Mesopotâmia, região onde hoje é o
Iraque, entre os rios Tigre e Eufrates, tendo sido construída uma cidade,
Babel, onde todos habitavam conjuntamente.
Ante a prevalência dos bens
materiais em detrimento dos bens espirituais, atitude que já se percebia na
própria família de Noé, temos que os homens resolveram não se distanciar uns
dos outros, mas, pelo contrário, diante das excelentes condições climáticas
existentes na Mesopotâmia, muito propícias tanto para a agricultura quanto para
a pecuária, simplesmente desconsideraram as determinações divinas, resolvendo
se manter unidos, não se preocupando com a ordem de enchimento da terra.
Os homens, tendo recebido maior
domínio sobre a criação terrena, em vez de utilizá-lo para obedecer ao Senhor,
aproveitaram desta nova situação para fazer a sua própria vontade, para ter uma
vida independente de Deus, repetindo, deste modo, o mesmo erro praticado pelo
primeiro casal e pelo mundo antediluviano.
Temos aqui, uma vez mais, a
manifestação da natureza pecaminosa do ser humano, da herança adâmica (Cf.
Gn.5:3), pois o pecado permanecia no interior do homem, ainda havia a inimizade
entre Deus e a humanidade. Deus mostra Seu cuidado para com o homem, mas ainda
não havia chegado a “semente da mulher”, o único que haveria de dissipar esta
inimizade, esta divisão que havia entre Deus e o homem por causa do pecado
(Is.59:2).
Com a multiplicação promovida
pelos filhos de Noé, temos a formação de uma comunidade única, de uma sociedade que, até para
cumprir o propósito divino, foi organizada inclusive com uma administração da
justiça, com normas e regras que estabelecessem os valores éticos definidos por
Deus quando da criação do ser humano, para reger os relacionamentos entre os
homens.
Como resultado deste aumento do
domínio do homem sobre a criação terrena e a própria criação da administração
da justiça, tivemos propriamente o surgimento do poder político e não é por
acaso que, nesta nova comunidade, temos a notícia do surgimento de tal poder de
uma forma mais institucionalizada, pois o texto sagrado nos diz que Ninrode,
filho de Cusi que, por sua vez, era filho primogênito de Cão, “começou a ser
poderoso na terra” (Gn.10:8), “foi poderoso caçador diante da face do Senhor”
(Gn.10:9).
Para que houvesse a
administração da justiça, para que se tivesse a organização da convivência
entre os homens, necessário se fazia criar-se o governo na sociedade e, com o
governo, que houvesse os governantes, aqueles que presidissem, ou seja,
estivessem à frente dos demais integrantes da comunidade. Ninrode, bisneto de
Noé, parece ter sido o primeiro governante, aquele que assumiu o poder, que se
fez “poderoso na Terra”.
As autoridades são constituídas
por Deus e têm em vista, em primeiro lugar, precisamente a administração da
justiça, o castigo dos maus (Rm.13:1-7). Foi este o propósito da criação de tais
autoridades na dispensação do governo humano. No entanto, na descrição que
vemos no capítulo 10 do Gênesis, é que esta autoridade se transformou em
“poder”.
A autoridade é um poder
delegado, ou seja, é um “poder autorizado”. Deus, que é a fonte de todo o poder
(Sl.62:11), autorizou os homens a administrar a justiça, quando firmou o pacto
com Noé. Deus delegou esta função aos seres humanos, que deveriam, então,
construir sistemas em que os valores éticos estabelecidos por Deus ao homem
fossem cumpridos na convivência entre os homens, cumprindo-se, deste modo, a
vontade de Deus na sociedade.
No entanto, esta autoridade
logo se desvirtuou. Ao se dizer que Ninrode “começou a ser poderoso na Terra”,
temos a nítida afirmação de que o homem passou a usar esta autoridade para o
seu benefício próprio, para que se estabelecesse um relacionamento entre os
homens em que o que se buscasse não seria mais a realização da vontade de Deus
nos relacionamentos e na convivência, mas, sim, a vontade daquele que
governasse, que se tivesse a supremacia da vontade dos governantes sobre os
governados, o estabelecimento de um domínio de uns sobre outros.
É interessante notar que, pelo
que se infere do texto bíblico, Ninrode se notabilizou entre os seus
semelhantes como um poderoso caçador. Fora uma novidade da dispensação do
governo humano a mudança de dieta alimentar do homem, que passou a consumir
carne e, assim, se deu inicio à atividade da caça, que era a captura de animais
selvagens para consumo, além da pecuária, que era a criação de gado, atividade
já existente desde os primórdios da história da humanidade.
Ninrode apresentou-se como
exímio caçador, demonstrou grande habilidade nesta atividade, o que, por certo,
foi enaltecido pelos seus semelhantes, que viram nesta sua habilidade uma
capacidade de força e de domínio. Não demorou muito para que Ninrode se
aproveitasse desta circunstância para ter uma ascendência sobre os seus
semelhantes e se tornasse o governante de todos.
O significado da palavra
“Ninrode” é “rebelde”, como nos ensina o pastor Evandro de Souza Lopes, e, como
sabemos, o nome, entre os orientais, indica o caráter da pessoa. Ninrode
alcançou o governo daquela comunidade única pós-diluviana em virtude de sua
própria rebeldia, pois rebeldes estavam todos os homens de sua época.
A palavra “caçador”, em
Gn.10:8,9, também pode ser traduzida por “guerreiro”, dando a entender,
portanto, que Ninrode, além de demonstrar força com relação aos animais, também
se mostrou hábil na luta e no exercício da guerra, o que explica, também, a sua
assunção ao poder.
Ninrode estabeleceu-se, deste
modo, pela sua própria força e habilidade, a revelar uma comunidade que já dava
valor ao que aparece, aos elementos humanos e não aos valores divinos e aos
compromissos assumidos no pacto firmado entre Deus e Noé. Tratava-se de uma
comunidade que seguia o mesmo erro do primeiro casal, procurando ter uma vida
independente de Deus.
Este projeto de Ninrode de todos
ficarem em volta de si, de toda a humanidade permanecer, sob um governo único,
centrado no pensamento humano e vendo o poder como um fim em si mesmo é o que
caracteriza o que se denominou de “globalismo”.
“…O globalismo é uma
política internacionalista, implantada por burocratas, que vê o mundo inteiro
como uma esfera propícia para sua influência política. O objetivo do globalismo
é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários
continentes por meio de intervenções e decretos autoritários. Eis o argumento
central do globalismo: lidar com os problemas cada vez mais complexos deste
mundo — que vão desde crises econômicas até a proteção do ambiente — requer um
processo centralizado de tomada de decisões, em nível mundial. …” (POLLEIT,
Thorsten. A diferença básica entre globalismo e globalização econômica: um é o
oposto do outro. 01 mar. 2017. Disponível em:
https://www.mises.org.br/article/2639/a-diferenca-basica-entre-globalismo-e-globalizacao-economica-um-eo-oposto-do-outro
Acesso em 06 nov. 2019).
O globalismo está vinculado a
esta ideia de que se deve ter um único governo mundial, a ideia de que o homem
precisa dirigir, a partir de si mesmo, todo o planeta, o que importa em
desconsideração de que o poder é uma autorização divina. Tal ideia, iniciada
com Ninrode, somente findará com o Anticristo, que será derrotado por Nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo, Ele, sim, que instituirá um governo mundial,
porque sendo Deus e homem, pode, sim, e só Ele, reinar sobre toda a Terra
(Jr.23:5; Ap.20:4).
II – A REBELDIA DA COMUNIDADE
ÚNICA PÓS-DILUVIANA
Com Ninrode, temos o
estabelecimento do poder político independente de Deus, ou seja, o exercício do
domínio sobre os demais homens sem atendimento da necessidade de cumprimento
dos valores éticos estabelecidos por Deus ao homem. O governante usa o domínio
que tem para o seu próprio bem-estar, para a realização de sua própria vontade,
como ser o poder fosse um fim em si mesmo, como se não fosse uma delegação de
Deus aos homens.
Ninrode começou a “ser poderoso
na terra”, porque fora “um poderoso caçador diante da face do Senhor”. Tais
expressões mostram, claramente, que, num primeiro instante, Ninrode
apresentou-se como um “poderoso caçador diante da face do Senhor”, mas que,
posteriormente, deixou Deus de lado, não mais levou em conta a figura divina,
passando a ser “poderoso na Terra”.
O princípio de seu reino foi
Babel (Gn.10:10),
palavra cujo nome significa “Porta de Deus”. O nome dado a esta cidade, que
seria, doravante, o símbolo de todo este poder político rebelde contra Deus
(daí porque este sistema de poder é chamado de “Babilônia” no último livro da
Bíblia – Ap.17 e 18), bem revela tal rebeldia. Ao denominar a sua cidade de
“Porta de Deus”, Ninrode estava se divinizando e dando início à idolatria, que
é o primeiro passo para a corrupção geral da humanidade, como se verifica de
Rm.1:18-23.
OBS: “…Chamada na Bíblia de ‘ornamento e glória dos
caldeus’ e ‘cidade dourada’ (1) Babilônia foi edificada no vale de Sinar, junto
ao rio Eufrates. Ninrode, filho de Cus, estabeleceu nela o seu reinado depois
de libertá-la do poder dos elamitas. ‘Este começou a ser poderoso na terra. E
este foi poderoso caçador diante da face do Senhor, pelo que diz: como Ninrode,
poderoso caçador diante do Senhor. E o princípio do seu reino foi Babel...’(2).
Babel é a forma grega de Babilônia e significa Porta de Deus, título que se
apropria por haver influenciado poderosamente o desenvolvimento da religião
pagã no mundo antigo durante dezessete séculos…” (ALMEIDA, Abraão de. Babilônia
ontem e hoje, p. 14).
Ao começar a “ser poderoso na
Terra”, Ninrode pôs-se no lugar de Deus, passando a ser adorado pelos seus
súditos, passando a se apresentar como “fonte do poder”, motivo pelo qual se
diz, com razão, que Ninrode foi o “primeiro anticristo”, ou seja, o primeiro
homem a querer utilizar-se do poder político para se colocar no lugar de Deus,
para usurpar o poder divino. Como diz o pastor Abraão de Almeida: “…Foi em
Babilônia, após o dilúvio, que a mesma atitude de negação de Deus se
manifestou, particularmente através de Ninrode e Semíramis. Era o mistério da
injustiça, referido pelo apóstolo Paulo, mais uma vez operando desde a expulsão
de Adão e Eva do Éden. O objetivo era a organização de uma igreja falsa,
estruturada dentro de um sistema religioso no qual fosse adorada uma falsa
trindade. Dentro dessa organização o próprio Satanás estava (e está) preparando
o mundo para a sua manifestação futura, quando reinará por um pouco de tempo
sob a forma do Anticristo. O princípio é a glorificação do ser humano,
divinizador de reis e imperadores, o culto à personalidade. Somente dentro de
tal sistema compreende-se a deificação dos césares e dos grandes homens, aos
quais se erigiam templos e em sua honra se ofereciam sacrifícios e libações.…”
(op.cit., p.16).
Segundo o pastor Abraão de
Almeida, Ninrode é o deus babilônico Marduque que, segundo a mitologia
babilônica, havia sido o deus que teria prevalecido sobre as demais divindades
e estabelecido a ordem cósmica. “…esse falso deus recebeu um culto especial em
todo o mundo antigo, na qualidade de dono e senhor, como aliás é o significado
do seu nome mais popular: Baal. (…). Marduque, Melkart, Kemosh (deus de Moabe)
seriam apenas algumas das várias representações pagãs de Ninrode. Afirma-se que
o centauro, deus grego - um cavalo com uma cabeça de homem e com uma arca na
mão - era adorado em memória de Ninrode, que foi o primeiro caçador e o
primeiro homem a usar o cavalo para a caça e a guerra. O famoso rei de
Babilônia, segundo a religião desta ímpia cidade, casou-se com Semíramis, a
mesma Astarte, Astorete, Ísis, Isthar, Afrodite, Vênus, Diana etc.(1) A imagem
desta última, em Éfeso, com sua coroa de torres na cabeça, representava a mesma
mulher e era adorada como a deusa da fortificação, por ter sido ela a primeira
a fortificar Babilônia com muros e torres. ‘Astarte é a Isthar de Babilônia, a
deusa da estrela matutina, a Vênus da guerra e do amor. Deusa do amor, Astarte
patrocinava a volúpia e a fecundidade. Foi dotada de uma personalidade tão rica
que muitas outras deusas acabaram fundindo-se nela, de tal modo que pode a
Bíblia falar de Astartes no plural para designar todas as divindades femininas
locais. Contudo, a Escritura não desconhece que Astarte foi a deusa-tipo, a
rainha do céu, exercendo em todos os tempos seu poder sedutor sobre o
temperamento feminino.’…” (op.cit., p. 21).
Ninrode era neto de Cão,
precisamente aquele que havia intensificado o desvirtuamento na família de Noé.
Vemos, assim como o comportamento dos pais influencia a conduta de seus filhos.
Cão havia tomado uma atitude de desonra com relação a seu pai, de
desprendimento dos valores éticos estabelecidos por Deus ao homem e o resultado
disto foi a formação de filhos e netos indiferentes às coisas espirituais, uma
vida voltada única e exclusivamente para as coisas desta vida, que redundou na
desconsideração do Senhor, que resultou na recusa à glorificação de Deus, o que
levou ao obscurecimento de seus corações, mudando a glória do Deus
incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível (Cf. Rm.1:21-23).
Parecia, à primeira vista,
portanto, que a maldição de Noé se mostrara ultrapassada, já que, embora se
tinha dito que Sem e Jafé seriam senhores de Cão, na verdade eram os camitas,
através de Ninrode, que estavam no comando da comunidade única pós-diluviana,
que detinham o poder, subjugando os demais.
Isto nos traz uma profunda
lição, qual seja, a de que não devemos nos guiar pela aparência, que não
devemos nos impressionar com as coisas que nos apresentam e que, por vezes,
parecem ser estar em desacordo com as promessas de Deus, com a Sua Palavra.
Se é certo que Noé não deveria
ter amaldiçoado seu filho, que tal gesto não tinha qualquer origem em Deus, não
é menos certo que o gesto de Cão violava a lei divina e, como tal, haveria de
produzir efeitos nefastos à linhagem camita, uma vez que Deus é justiça e vela
pela Sua Palavra para a cumprir.
No entanto, esta servidão camita
não veio de imediato, mas, bem ao contrário, se mostraria, num primeiro
instante, como seu extremo oposto, como o domínio sobre os seus irmãos Sem e
Jafé, através do reinado de Ninrode, um reinado “rebelde”, precisamente porque
oriundo de uma educação feita por quem passou a desonrar e a desrespeitar os
próprios pais.
Ninrode era um hábil político e
estendeu os seus domínios de Babel até Nínive, situada na região norte da Mesopotâmia, cidade que também
fundou, assim como Reobote-Ir e Calá, que foi chamada de grande cidade
(Gnm.10:11).
Num primeiro momento, pareceria
que Ninrode estava querendo cumprir o propósito divino de encher a terra, mas
isto não passava de atitudes voltadas única e exclusivamente à realização de
sua própria vontade e não da vontade divina. O objetivo de Ninrode era tão
somente povoar a planície mesopotâmica, a região entre os rios Tigre e
Eufrates, região fértil e excelente para a sobrevivência daquela comunidade
única pósdiluviana. Com o aumento populacional, Ninrode cria quatro cidades,
com o nítido objetivo de melhor distribuir seus súditos, mas sem qualquer
intenção de encher a Terra, mas tão somente de consolidar o seu domínio sobre
os seus semelhantes.
O exercício do poder político à
revelia dos valores éticos divinos determinados ao homem gera tão somente isto:
tirania e prevalência da vontade dos governantes, a tomada de ações que visem
única e exclusivamente a consolidação do poder na mão daqueles que dominam, na
busca incessante de um bem-estar terreno, de um desfrute das coisas desta vida,
desfrute este que encontra nos governantes o seu máximo esplendor.
Em sua rebeldia, Ninrode pôs-se
no lugar de Deus, introduziu a idolatria, passou a se divinizar e a não querer
atender, em absoluto, aos princípios e diretrizes estabelecidos pelo Senhor no
pacto estabelecido com Noé.
Os homens, após o dilúvio,
haviam se estabelecido em Sinar, onde se edificou Babel (Gn.11:2). Tal
disposição de habitar num só local mostra a contrariedade com a ordem divina
para que enchessem a Terra. Esta comunidade não dava valor à ordem divina,
querendo apenas gozar das benesses existentes no local onde habitavam, região
fértil e propícia para a agropecuária.
OBS: “…Logo que chegaram a essa terra fértil e
agradável, surgiu a ideia da formação de um grande centro, com meios de
escapamento, no caso de outra catástrofe como a do Dilúvio: fundar uma cidade e
erigir uma torre que tocasse os céus. Não é preciso supor que o fim desta torre
fosse insultar e desafiar a Deus, mas sim prover os meios de segurança a
refúgio. A falta maior estava em que a ordem de Deus era povoar a terra por
meio de dispersão, e eles queriam ficar juntos. E disseram uns aos outros:
"Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E tijolos serviram-lhes de
pedra, e betume de cal. E disseram: Eia, edifiquemos uma cidade e uma torre
cujo topo toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados
sobre a face de toda a terra." Justamente o contrário do que Deus tinha
ordenado. Havia um motivo: "façamo-nos um nome". Havia um receio: ser
espalhados pela face de toda a terra. A empresa era digna da ambição mundana de
Ninrode.…” (MESQUITA, Antonio Neves de. Estudo no livro de Gênesis. 4. ed.,
p.173).
Esta disposição em ficar neste
local, em total indiferença à ordem divina, também se demonstra na edificação
de cidades ao longo da planície, como foi feito por Ninrode. Tratava-se de uma civilização
que, a exemplo da civilização de Caim, também tinha um desenvolvimento
tecnológico, tanto que eram capazes de produzir tijolos por pedra e betume, por
cal (Gn.11:3).
Mais uma vez vemos o homem
usando dos atributos que lhe haviam sido dados por Deus, mas num sentido
contrário à vontade do Senhor. Os homens tinham capacidade de ter fartas
produções, de dominar a arte da caça, de edificar cidades, de fazer belas e
sólidas construções, mas não queriam ter qualquer relacionamento com o seu Criador.
Esta desconsideração da figura
divina, entretanto, não se limitou a não obedecer a Deus, mas, numa atitude de
rebeldia intensa, resolveram também desafiar a Deus, de modo que Ninrode decidiu
construir uma cidade e uma torre cujo cume tocasse nos céus e se fizesse um
nome para que não fossem espalhados sobre a face de toda a Terra (Gn.11:4).
Neste singelo texto bíblico
vemos a que ponto havia se desenvolvido a deificação do ser humano e como havia
sido a humanidade desta comunidade única pós-diluviana contaminada pelo pecado
e pela rebeldia.
O texto diz-nos que houve um
consenso, uma unanimidade em edificar uma cidade e uma torre para eles.
Esta decisão mostra como a humanidade estava alheia completamente a Deus.
Queria edificar uma cidade e uma torre “para eles”. Temos aqui uma evidente
demonstração de que o objetivo do homem era ele próprio, ele se colocava como
centro do universo, como centro de suas preocupações. Não havia qualquer noção
de que o homem devia se relacionar com Deus, buscar agradá-l’O, fazer-Lhe a
vontade. A comunidade única pós-diluviana pensava só em si, não via nada além
do que era visível, do material, punha o homem como o próprio centro de todas
as coisas, tinha uma visão “antropocêntrica”, o que não seria de se surpreender
numa civilização que passou a divinizar o homem, o seu governante.
É precisamente por isso que
temos, em Ninrode, uma figura do Anticristo, pois a mentalidade reinante é a da
colocação do home como centro do universo, do “antropocentrismo”, que é,
precisamente, o traço que se apresenta no chamado “espírito do anticristo”,
cuja intensidade é cada vez maior em nossos dias, dias finais da dispensação da
graça, dias que antecedem ao arrebatamento da Igreja.
No sistema de poder político
rebelde contra Deus, o homem sempre ocupa o lugar principal. Os governantes, não raro,
dizem-se “deuses”, e isto não ocorreu apenas entre os governantes da
Antiguidade, mas tem se revelado até mesmo em nossos dias, como, por exemplo,
nos regimes comunistas, onde, apesar de defenderem o “ateísmo sistemático”,
vemos verdadeiros cultos à personalidade dos governantes, como comprovam os
corpos embalsamados de Lênin e Mao Tsé Tung e a verdadeira idolatria existente
na Coreia do Norte com relação aos três governantes comunistas daquele país
(Kim Il Sung, Kim Jong-Il e Kim Jong-Um).
O último ditador mundial, a
exemplo de Ninrode, o primeiro ditador pós-diluviano, também se colocará no
lugar de Deus, querendo parecer Deus no templo de Deus (Cf. II Ts.2:4), o que é
denominado de “o mistério da injustiça” pelo apóstolo Paulo (II Ts.2:7), algo
que de origem nitidamente maligna, pois o primeiro que assim se comportou foi o
querubim ungido (Cf. Is.14:13). Como afirma Mac Dominik, tinha-se aqui a ideia
de que “…a humanidade unida, motivada e esotericamente capacitada poderia
realizar qualquer coisa — até mesmo se essa realização estivesse diametralmente
oposta ao plano de Deus…” (Reconstruindo a Torre de Babel: o lado obscuro da
Igreja com propósitos. Disponível em: http://www.espada.eti.br/rtb-intro.asp
Acesso em 07 out. 2015).
Esta soberba humana, este
antropocentrismo, tem contaminado inclusive os que cristãos se dizem ser em
nossos dias. Vivemos dias difíceis em que o homem passou a ser o centro mesmo
entre os que dizem servir ao Senhor. Basta uma simples vista d’olhos no
conteúdo das pregações e das músicas supostamente sacras que têm sido entoadas
em reuniões ditas “evangélicas” para percebermos como o homem passou a ser o
centro das preocupações, passou a ser o alvo de tudo quanto se faz supostamente
para adorar a Deus. Tomemos cuidado, amados irmãos!
Um segundo ponto que verificamos
neste texto é o fato de que houve um “consenso”, um acordo de todos os
habitantes para a edificação da cidade e da torre. Isto nos prova,
claramente, que nem sempre a voz do povo é a voz de Deus. O povo todo
estava imbuído de espírito de rebeldia, todos estavam em colisão contra a
vontade divina.
Um terceiro ponto que nos mostra
Gn.11:4 é que esta torre, que se decidiu construir, tinha como objetivo ter
“um cume que tocasse os céus”. Esta civilização instituía a falsa religião,
uma tentativa de ligação do homem com Deus a partir do homem, de baixo para
cima, da terra para o céu. A soberba chegava ao seu limite, mostrando uma
mentalidade de que se poderia chegar ao céu independentemente do Criador,
independentemente do Senhor.
Temos, em Babel, no reino de
Ninrode, o surgimento do paganismo, da religião que parte do homem e que tem
como centro o homem. Os deuses, no
paganismo, nada mais são que reflexos dos próprios homens. Com efeito, quando
observamos as mitologias existentes, vemos que os deuses têm características
humanas, sendo dotados de invejas, ciúmes, raiva, ódio, sensualidade e coisas
quetais, a revelar serem meras projeções da imaginação humana.
Temos, assim, deuses feitos
conforme o homem, a mostrar que “o homem é a medida de todas as coisas”, para
repetirmos aqui a famosa frase do filósofo sofista grego Protágoras (490-415
a.C.), pensamento que podemos dizer ser uma síntese da mentalidade vigente em
nossos dias, mentalidade que se construiu nesta comunidade única pós-diluviana.
Ao homem é impossível salvar-se
a si mesmo, envidar esforços para conseguir a bem-aventurança e o sucesso na
vida espiritual. Crer-se que se pode obter a felicidade através de esforços
única e exclusivamente humanos é um grande erro e foi nisto que creram os
homens sob o domínio de Ninrode.
É com tristeza que vemos uma tal
mentalidade vicejar mesmo entre os que cristãos se dizem ser. Teologias como a
teologia da prosperidade, a teologia da confissão positiva e a teologia da
libertação (que tem influenciado alguns segmentos da teologia da missão
integral) reafirmam esta soberba humana, ao crerem que Deus está à disposição
do homem, que o homem pode “obrigar” Deus ou, ainda, que, por esforços
puramente humanos, se possa delinear a instalação do reino de Deus na Terra.
Ainda hoje se estão querendo que construções humanas, que atitudes humanas
tenham o condão de “atingir os céus”…
Um quarto ponto que extraímos
deste texto de Gn.11:4 é que o objetivo daqueles homens era o de “fazer um
nome”. Ora, a expressão “o nome” é uma expressão muito cara aos israelitas
e designa o próprio Deus. Com efeito, “Ha Shem” (“o Nome”) é um modo de se
dirigir ao Senhor, já que os israelitas não mencionam o nome de Deus. - Assim,
diante desta peculiaridade da cultura israelita, vemos que quando o texto
bíblico diz que os homens queriam “fazer-se um nome”, estamos precisamente
indicando uma mentalidade de independência em relação a Deus, uma atitude de
desafio ao senhorio de Deus, um gesto de estabelecimento de uma vida construída
dentro de uma total indiferença em relação ao Senhor, viver como se Deus não
existisse.
Aquela torre nada representava
senão uma “declaração de independência” em relação a Deus, um “atestado” de que
se poderia viver sem se recorrer a Deus, sem que Ele fosse levado em
consideração. É esta
mentalidade que reina em todos os sistemas políticos oriundos deste sistema
instaurado pela comunidade única pós-diluviana, que tem animado todo o sistema
das nações desde aquele momento histórico.
Um quinto ponto que verificamos
neste texto diz respeito ao objetivo da construção daquela torre: “para que
não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gn.11:4).
Notamos aqui que se tratava de
uma rebeldia deliberada contra o Senhor. Não tinha havido qualquer esquecimento
a respeito das ordens divinas. Noé viveu ainda trezentos e noventa anos depois
do dilúvio e é factível que Ninrode, que era seu bisneto, o tenha conhecido,
embora não tenhamos estes dados na Bíblia Sagrada. No entanto, ainda que não
tenha conhecido pessoalmente seu bisavô, é evidente que Ninrode tivesse tido
conhecimento do pacto que Deus havia estabelecido com Noé e seus filhos.
Contudo, o “homem que começou a
ser poderoso na Terra”, embora tivesse conhecimento da ordem divina, havia
entendido que era possível desafiar a ordem divina. A torre e a cidade foram
edificados com o propósito de anular a ordem divina, de impedir que aquela
comunidade se espalhasse sobre a face da Terra. Com a construção de cidades
na Mesopotâmia e desta torre, Ninrode cria ser possível “driblar” a ordem
divina e impedir que o Senhor fizesse valer a Sua vontade.
Porventura, não é o que o homem
tem sistematicamente feito ao longo da história da humanidade? Tentar, pela sua
ciência, pela sua inteligência, criar alternativas ao que Deus tem dito e
falado durante todo este tempo? Quantos não criam para si ideologias,
filosofias e religiões que modificam o dito por Deus e que pretendem substituir
o que Deus disse? São os “falsos discursos” que somente revelam a insensatez e
loucura do ser humano, como diz o apóstolo Paulo em Rm.1:21,22.
A Palavra de Deus é a verdade
(Jo.17:17), devemos tê-la como nossa única regra de fé e prática, crendo nela e
agindo conforme as suas orientações, pois só assim agradaremos a Deus e
poderemos viver com Ele eternamente. Não tentemos, a exemplo da comunidade
única pós-diluviana, criar subterfúgios para escaparmos do juízo divino, pois
Deus é soberano e, de modo algum, poderemos escapar se não atentarmos para tão
grande salvação na pessoa de Cristo Jesus (Hb.2:3).
Entretanto, Ninrode e os seus
estavam convictos de que poderiam impedir que Deus os espalharia sobre a face
da Terra, que o propósito divino se cumpriria querendo, ou não, os homens.
Entendiam que, construindo esta torre, não se teria como haver o espalhamento
dos homens sobre a face da Terra.
Teria Deus alertado por Noé ou
algum de seus filhos que se deveria cumprir o propósito divino de encher a
Terra para que se tomasse esta iniciativa de construção da torre?
A Bíblia é silente a respeito,
mas Flávio Josefo nos traz uma tradição que teria sido precisamente por este
alerta divino que houve a deliberação de construção da cidade e da torre. Diz o
historiador judeu: “…Deram o nome de Senaar à primeira terra em que habitaram.
Deus ordenou que mandassem colônias a outros lugares, a fim de que,
multiplicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos
em maior abundância e evitar as desinteligências que de outro modo poderiam ser
suscitadas entre eles. Mas esses homens rudes e indóceis não obedeceram e foram
castigados pelo seu pecado, com os males que lhes sucederam. Deus, vendo que
seu número crescia sempre, ordenou-lhes segunda vez que formassem outras
colônias. Mas esses ingratos que se haviam esquecidos de que eram devedores de
todos os seus bens a Ele, e os atribuíam a si mesmos, continuaram a
desobedecer-Lhe e acrescentaram à sua desobediência a impiedade de imaginar que
era cilada que se lhes armava, a fim de que, estando divididos, pudesse Deus
mais facilmente perdê-los.…” (Antiguidades Judaicas I,4. In: História dos
hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, pp.28-9).
É interessante observar que a
arqueologia bem demonstra que, na Mesopotâmia, eram abundantes as construções
dos chamados “zigurates”, ou seja, “… uma forma de templo, criada pelos
sumérios e comum para os babilônios e assírios, pertinente à época do antigo
vale da Mesopotâmia e construído na forma de pirâmides terraplanadas. O formato
era o de vários andares construídos um sobre o outro, com o diferencial de cada
andar possuir área menor que a plataforma inferior sobre a qual foi construído
— as plataformas poderiam ser retangulares, ovais ou quadradas, e seu número
variava de dois a sete.…” (Zigurate. In: WIKIPÉDIA. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zigurate Acesso em 07 out. 2015), construções
que, sem sombra de dúvida, tiveram sua origem histórica na “torre de Babel”.
Nesta construção, também, havia
uma outra ideia que se pode inferir. Ao construir uma torre e uma cidade que os
impedisse de se espalhar sobre a face da Terra, torre cujo cume chegasse aos
céus, os homens daquele tempo estavam querendo, com isto, impedir que alguém se
extraviasse. Seria esta torre uma referência, torre que poderia ser vista de
qualquer lugar, a fim de evitar que alguém se “perdesse” e fosse habitar em
outro lugar. Era a ideia de que uma atitude humana, uma obra humana tinha o
condão de impedir o cumprimento do propósito divino.
Mas, além desta ideia de se ter
um referencial que impedisse que alguém se extraviasse, vemos, também, a
tentativa de construção de uma torre que pudesse servir de abrigo para os
homens na eventualidade de uma ação divina com o fim de punição dos homens.
Uma grande torre cujo cume
atingisse os céus era uma evidente tentativa de demonstração de que os homens,
caso Deus resolvesse puni-los com um dilúvio, seria “driblado”, não conseguiria
impedir que os homens fossem novamente destruídos. É o que diz a tradição
judaica, recolhida aqui, ainda esta vez, por Josefo: “…Ninrode, neto de Cão, um
dos filhos de Noé, foi quem os levou a desprezar a Deus, desta maneira. Ao
mesmo tempo valente e corajoso, ele os persuadiu de que deviam unicamente ao
seu valor, e não a Deus, toda a sua boa fortuna. E como ele aspirava ao governo
e queria levá-los a escolhê-lo para seu chefe e deixar a Deus, ofereceu-se para
protege-los contra Ele (se Ele ameaçasse a terra com outro dilúvio),
construindo uma torre para esse fim, tão alta que não somente as águas não
poderiam chegar-lhe ao cimo, mas que ainda vingaria a morte de seus
antepassados…” (op.cit., p.29).
Por primeiro, esta atitude de
construir a torre para abrigo contra eventual inundação revelava uma profunda
descrença na promessa divina de que não haveria mais dilúvio sobre a face da
Terra. Era, portanto, uma manifestação de incredulidade em Deus.
Por segundo, essa atitude
mostrava toda a soberba humana, que achava ser possível impedir a ação divina,
como se Deus não fosse soberano, não tivesse o controle sobre todas as coisas.
Infelizmente, há muitos que acham que podem manipular Deus ainda hoje…
No entanto, esta manifestação de
rebeldia, que tinha chegado à unanimidade, não ficou desconhecida do Senhor. A
Bíblia diz que o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os filhos dos
homens edificavam e disse que o povo era um e todos tinham uma mesma língua e
era o que começavam a fazer e, deste modo, não haveria qualquer restrição ao
que eles intentassem fazer dali para frente (Gn.11:5,6).
É evidente que a expressão
bíblica aqui é “antropomórfica”, ou seja, atribui a Deus uma qualidade
nitidamente humana, a fim de que se possa entender, dentro da mente humana, o
que sucedeu. É o que nos ensina Antonio Neves de Mesquita, “in verbis”: “…Os
versos 5-7 descrevem a descida de Jeová para ver a torre. A linguagem com que
Moisés descreve Jeová é antropomórfica, isto é, põe Deus em condições humanas,
descendo para ver a torre, como se a Deus houvesse qualquer coisa invisível. É
grande maravilha como o Todo-poderoso se adapta às condições humanas, para fins
redentores. Jeová desceu, viu a torre, viu também que todo o povo tinha uma
mesma língua, e determinou fazer-lhes justamente o que eles temiam: espalhá-los
pela face da terra.…” (op.cit., p. 175).
Deus não precisa “descer a um
lugar” para saber o que se passa, pois é onisciente e onipresente. A expressão
de Gn.11:5 tem o sentido de que, diante da determinação da construção daquela
cidade e torre, da unanimidade apresentada, do desafio deliberado contra o
Senhor, havia chegado o limite da paciência divina, da Sua longanimidade, havia
chegado, uma vez mais, o momento da aplicação do juízo.
Todos haviam se rebelado contra
Deus e O desafiado de forma deliberada e acintosa. Não havia sequer um justo
naquela comunidade e, unidos nesta atitude, certamente haveriam de tomar outras
medidas de afronta ao Senhor. Era, pois, chegado o momento de agir, não só para
punir e castigar os rebeldes, mas também para impedir que sua insensatez
tornasse inviável o arrependimento, a conversão da humanidade.
Apesar de estarem unidos contra
Deus, o fato é que a união daquele povo nesta empreitada da construção da
cidade e da torre mostra o grande valor que tem a união e a comunhão na vida
sobre a face da Terra. Quando há união, disse o Senhor, não há restrição, não
há o que se possa impedir, do ponto-de-vista humano, que se atinja o objetivo
visado pelas pessoas que compõem o grupo.
Não é por outro motivo, aliás,
que Deus sempre formou um povo para servi-l’O e que o salmista diga que, na
união, o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl.133). A união é uma
força que permite a superação dos obstáculos, não há restrição para que se
consiga obter o que se pretende quando as pessoas estão unidas.
O Senhor, então, decide destruir
aquela comunidade única pós-diluviana, para que ela não levasse à necessidade
do extermínio de toda a humanidade. Embora houvesse chegado o momento do juízo
divino, da manifestação da Sua ira, tal ação de Deus não deixou de ter a Sua
graça e misericórdia. Deus agiu
naquele instante para evitar que a maldade e rebeldia prosseguissem e se
tivesse uma situação irreversível para o gênero humano. No pleno controle da
situação, o Senhor faz com que aquela comunidade fosse destruída, mas que se
mantivesse viva a promessa da redenção da humanidade por meio da “semente da
mulher”.
OBS: “…Deus, irado com essa loucura, não quis no
entanto exterminá-los, como havia feito aos seus predecessores, cujo exemplo,
porém, lhes havia sido de todo inútil, mas pôs divisão entre eles, fazendo com
que a única língua que falavam se multiplicasse num instante, de tal modo que
não mais se entendiam…” (JOSEFO. Flávio. op.cit., p.29).
O Senhor, então, decide
confundir as línguas daquele povo e, com esta confusão (e este é outro sentido
da palavra “Babel”), tornou impossível a convivência daqueles homens em uma só
comunidade e, por isso, tiveram as pessoas que falavam a mesma língua, se
espalharem sobre a face da Terra, dando origem, então, a todas as nações que
hoje existem e que, como dissemos, foram elencadas pelo escritor sagrado em
Gn.10.
Aqui, mais uma vez, o
escritor sagrado faz-nos inferir a “realidade plural” de Deus, pois a decisão
tomada pelo Senhor é dada no plural: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua
língua para que não entenda um a língua do outro” (Gn.11:7). Evidencia-se aqui
a pluralidade das Pessoas Divinas neste único Senhor e Deus.
Também aprendemos, neste
episódio, que a língua é um fator preponderante na definição de uma
civilização, de uma comunidade, de um determinado povo. Ao confundir as
línguas, o Senhor impediu que a convivência permanecesse e desta comunidade
única surgiram as diversas nações hoje existentes. A língua é a própria
expressão da racionalidade (tanto que Deus mostrou que Adão era superior aos
demais seres no instante mesmo em que manda que ele desse nome aos animais, ou
seja, utilizasse da sua capacidade de elaborar uma linguagem, de construir uma
língua) e, como tal, é a base para a construção da cultura, que nada mais é que
o conjunto de todas as criações humanas na sua vida sobre a face da Terra.
Desta comunidade única
pós-diluviana surgiram todas as nações que existem na face da Terra, nações que
apareceram por causa da confusão das línguas, que gerou a dispersão por toda a
face da Terra, tendo os povos
que saíram de Babel ocupado diversas regiões do planeta, sendo obrigados a se
adaptar às condições climáticas e geográficas diversas de cada região do globo.
Por isso, as nações exsurgidas deste episódio passaram a ter costumes e
tradições diversos, tais como, culinária, língua, vestimentas e religiões
diferentes.
Apesar de todas estas diferenças,
que se acentuaram e se intensificaram ao longo dos anos, com novas subdivisões
e dispersões, todas estas nações, todas estas gentes têm a mesma origem naquela
comunidade única pós-diluviana e formam eles os “gentios” mencionados na
Bíblia, este povo que, vivendo inicialmente unidos, por terem consensualmente
se rebelado contra o Senhor, foram dispersos por todas as regiões da Terra.
Os “gentios”, portanto, eram
rebeldes contra o Senhor, portadores de uma mentalidade contrária à vontade de
Deus, que queriam viver como se Deus não existisse, circunstância que não foi
alterada, visto que o juízo divino apenas impediu que esta rebeldia se
mantivesse num estado de união que poderia levar à destruição de toda a
humanidade.
É importante observar, ademais,
que isto explica porque não se consegue, apesar de todos os esforços da
filologia, que é o “o estudo da linguagem em fontes históricas escritas,
incluindo literatura, história e linguística”, não ter até hoje conseguido
descobrir uma “língua comum”, que fosse a fonte das demais línguas, chegando,
quando muito, a um grupo de línguas que têm afinidades comuns. E não conseguem
chegar nem vão fazê-lo, precisamente porque as línguas existentes tiveram
origem na confusão ocorrida em Babel, têm origem sobrenatural, de modo que não
há uma língua única que tenha dado origem às demais.
OBS: “…O Dr. Conant, citado por Carroll, em seu
livro sobre Gênesis, diz: "A diversidade de línguas da terra apresenta um
problema que a filologia tem em vão procurado resolver. A filologia comparativa
tem, entretanto, mostrado que as muitas línguas diferentes são agrupadas por
afinidades comuns, como ramos da mesma família, tendo todos a mesma língua
original, como mãe comum. Não obstante o grande número de línguas diversas, todas
elas podem ser ligadas a umas poucas línguas maternas originais. A dificuldade
jaz na diversidade essencial destas poucas primitivas línguas, sem que exista a
mais remota afinidade que denuncie uma origem comum ou uma relação histórica,
problema este, para o qual a filologia comparativa não pode encontrar solução.
Os críticos não podem achar explicação natural para o problema e se recusam a
admitir o sobrenatural. O problema resolve-se facilmente, aceitando-se a
intervenção divina no curso da história humana. Havia uma língua original. Deus
aparece e multiplica esta língua em diversas outras, digamos, três ou oito.
Destas, outras surgiram no curso da História, as quais, por um processo
dedutivo, podem ser investigadas até à sua origem, em que se encontrarão estas
três ou oito: mas, destas, até a única original, não há jeito de chegar,
porque, quando Deus a dividiu, não deixou vestígio de seu estado original…”
(MESQUITA, Antonio Neves de. op.cit., p. 176).
Deus havia sido rejeitado pela humanidade, mas não tinha
rejeitado os homens. Continuava a
amar o ser humano, a ponto de, mesmo no castigo, ter impedido uma situação
irreversível de rebeldia. A rebeldia persistiu, mas não mais de forma unida.
Terminava mais uma dispensação e Deus, para falar com o homem, deveria formar
uma nação, uma nação que se distinguisse das demais, a partir da qual poderia
surgir a “semente da mulher” que tiraria o pecado do mundo.
O plano de Deus agora teria de
se desenvolver na construção de uma nova nação, diferente de todas as que
haviam se formado por causa da confusão das línguas. É disto que passa a tratar
o livro de Gênesis, mostrando como Deus dá início a este novo povo, que haveria
de ser a “propriedade peculiar dentre todos os povos”, tudo começando com a
chamada de Abrão, em Ur dos caldeus, uma das grandes cidades construídas na
Mesopotâmia, dentre aqueles que haviam permanecido nesta região fértil que
havia sido o centro do reino de Ninrode. Era o início da dispensação
patriarcal.
Ev. Caramuru
Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Hoje, estudaremos a primeira
iniciativa de se globalizar a Terra. Essa apostasia teve lugar em Sinear, na
Mesopotâmia. Ali, homens ímpios e dissolutos incitaram a descendência de Noé a
aglomerar-se num só lugar, sob um único governante. Foi assim que nasceu o
globalismo: uma doutrina contrária ao propósito divino quanto à povoação e ao
governo da Terra.
Em seguida, veremos como se deu
a intervenção do Senhor naquele projeto insano. Num único ato, Deus confundiu a
língua dos filhos de Noé, e os espalhou pelos mais remotos continentes e ilhas.
Finalmente, constataremos como o Senhor deu início à linhagem piedosa de
Israel, chamando o patriarca Abraão a viver pela fé.
Que Deus nos ajude a compreender
mais esta lição extraída de sua maravilhosa e insondável Palavra. Seja-lhe
tributada toda a glória. Amém! [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9,
1º Março, 2020]
Nesta lição, o enfoque sobre o
tema globalismo, baseado no episódio de Babel, no entanto, convido o leitor a
pensar maduramente a fé cristã. A ordem clara de Deus aos homens era para que
se espalhassem por toda a terra. A recém recriada humanidade formada depois do
dilúvio foi rebelde a essa ordem divina. Se não fossem espalhados por toda a
terra, muito provavelmente a humanidade não teria chegado até nossos dias. A
ideia de construir uma cidade e uma "torre cujo cume toque nos céus"
é uma clara demonstração de rebelião do homem que tenta se colocar no lugar de
Deus. O autor dessa rebelião foi Ninrode.
Dos filhos de Noé, Sem foi o
primeiro mencionado, ocupando o lugar da liderança e destaque nos planos
divinos para os povos. Os semitas seriam os líderes espirituais dos homens. Os
escolhidos de Deus dentro dessa linhagem ensinariam a religião de Jeová ao
mundo. Sabemos que o Messias devia vir através dos descendentes de Sem.
I. A SEGUNDA CIVILIZAÇÃO HUMANA
Neste tópico, veremos que, após
o Dilúvio, o Senhor firmou uma nova aliança com Noé. E, assim, o patriarca deu
início à segunda civilização humana. Todavia, o seu filho mais novo,
rebelando-se, inaugurou outro período de decadência e menosprezo em relação aos
mandamentos divinos.
1. A apostasia de Cam e de
Canaã. O episódio da vinha de Noé acabou por revelar
a irreverência de Cam, o seu filho caçula, e a maldade de seu neto, Canaã (Gn
9.20-29). Tinha início, ali, uma apostasia que, se não fosse a interferência
divina, comprometeria a ordem de povoar a Terra.
Assim como a cultura caimita
induzira os filhos de Sete ao pecado, o modo de vida de Cam e de seu filho,
Canaã, pôs-se a influenciar a descendência de Sem e de Jafé ao pecado e à
iniquidade (1Co 15.33). [Lições
Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9,
1º Março, 2020]
Apostasia, do hebraico “המרד ” literalmente = A rebelião. (rabino J.
de Oliveira). Em grego antigo (a·po·sta·sí·a) deriva do verbo a·fí·ste·mi,
que significa literalmente “apartar-se de”. No âmbito político grego era
como “arrastar pessoas”. O substantivo grego tem o sentido de “deserção,
abandono ou rebeldia”. Nas Escrituras Gregas Cristãs, é usado primariamente
com respeito à defecção religiosa; um afastamento ou abandono da verdadeira
causa, adoração e serviço de Deus, e, portanto, o abandono daquilo que
a pessoa antes professava e uma deserção total de princípios ou da fé.
(fonte: Estudo Perspicaz das Escrituras, Vol. 1). Sendo assim, é correto chamar
o pecado de Cam e de Canaã como apostasia?
Noé possivelmente despiu-se
porque fazia muito calor ou se expôs involuntariamente por causa de sua
embriaguez. Não há fundamento suficiente para a ideia de que alguma atividade
perversa, além de ver a nudez, ocorreu. Porém, claramente a implicação é que
Cam olhou com algum pensamento pecaminoso, mesmo que por um momento, antes
falar com seus irmãos. Talvez ele tivesse ficado feliz em ver a dignidade e a
autoridade de seu pai serem diminuídas a um ponto tão frágil. Pensou que os
seus irmãos talvez compartilhassem dos seus sentimentos, por isso lhes deu a
notícia com entusiasmo. Eles, no entanto, não compartilharam da atitude de Cam
(v. 23). Observe que, quem viu a nudes de Noé foi Cam, mas foi sobre Canaã que
a maldição recaiu! Essa mudança de enfoque de Cam para seu filho Canaã
estabeleceu a legitimação histórica para a futura conquista dos cananeus pelos
israelitas. Esse era o povo contra quem Israel teve que lutar pouco depois que
Moisés leu essa passagem. Aqui Deus deu a base teológica para a conquista de
Canaã. Os descendentes de Cam receberam a sentença de juízo pelos pecados do
seu progenitor. Em 10.15-20, os descendentes de Canaã são retratados como os
habitantes primitivos da terra posteriormente prometida a Abraão. Os povos
conquistados eram chamados de servos, mesmo que não fossem escravos domésticos
ou particulares. Sem, antecessor de Israel, e os outros "semitas"
seriam os senhores dos descendentes de Cam, os cananeus. Cam daria a terra a
Sem.
“O termo nudez é usado nesse
texto basicamente com o sentido de “estar exposto” e o verbo “ver” deve ser
tomado em seu sentido próprio. Assim, a expressão “vendo a nudez do pai”, deve
ser entendida em seu sentido óbvio e original, sem qualquer indicação de que
existe uma mensagem oculta nas entrelinhas do texto. Cam encontrou seu pai
desnudo na tenda, achou graça do episódio, e ridicularizou o pai na presença de
seus irmãos.
O hebraico possui pelo menos três
termos para nudez, procedente do verbo ‘ûr (estar exposta à vista das pessoas;
ser desnudado): ‘erôm (adjetivo, nu; substantivo, nudez); ‘ârôm (nu) e ma‘adrom
(nu), qualquer um desses termos significa a mesma coisa, exceto quando o uso é
figurado para descrever a opressão (Jó 24.7, 10; Is 58.7), ou mesmo a pobreza
ou falta de recursos como em Jó 1.21. Um outro sentido é descrever a nudez
tanto espiritual quanto física (Gn 3.7, 10,11), e até mesmo de que o sheol está
desnudo diante de Deus (Jó 26.6; Sl 139.7), mas jamais o vocábulo é usado como
eufemismo para o ato homossexual. O sentido primário é a condição de estar
exposto, estar desnudo à vista das pessoas. Uma questão especial é o caso
primevo de que Adão e sua esposa estavam nus diante de Deus na condição tanto
física quanto espiritual. No sentido espiritual estavam conscientes de sua
culpa e incapaz de escondê-la do Criador.
A posição exegética de que o
pecado de Cam e Canaã tenha sido contemplar de modo desrespeitoso a nudez do
pai, encontra sua confirmação no versículo 25 que atesta que Sem e Jafé, para
não recair no mesmo erro: “tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios
ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do
pai, sem que a vissem”. O contexto de Deuteronômio 27.16 reforça simetricamente
o conceito expendido: “Maldito quem desonrar o seu pai ou a sua
mãe”. Lembremos que na antiga sociedade hebraica, ver a nudez de pai
ou mãe era considerado uma calamidade social grave, e um filho ou filha ver tal
nudez propositadamente era um lapso sério da moralidade entre pais e filhos.
Portanto, Cam errou gravemente, de acordo com os padrões de sua época. E não
somente errou pessoalmente, mas também correu até seus irmãos, fazendo do
incidente um motivo de zombaria.
Ao contrário de Cam e Canaã, Sem
e Jafé evitaram cuidadosamente de incidir no mesmo equívoco de seu irmão e
sobrinho (v.23). Ao despertar do sono e recuperar-se da embriaguez, Noé toma
conhecimento dos atos de seus filhos, e seguindo a tradição do seu tempo
pronuncia maldições e bênçãos segundo o agir de cada um deles.
a) A maldição sobre Canaã
Acredita-se que para que a
maldição recaísse sobre Canaã, ele tenha participado de alguma forma do
desrespeitoso ato de seu pai Cam. Das 63 ocorrências do termo arar (maldição)
no Antigo Testamento, o verbo ocorre por 12 vezes como antônimo do verbo
abençoar (barak), e um desses casos é o versículo 25 do texto em apreço.
Seguindo os conceitos anteriores (Gn 3.14, 17; 4.11), o sentido primário é de
que Canaã e sua descendência estariam banidos, cercados de obstáculos e sem
forças para resistirem seus inimigos tornando-se escravos dos escravos (ebed
‘abadîm). Devemos notar, contudo, que embora Cam tivesse outros filhos além de
Canaã (Cuxe, Mizraim e Pute – Gn 10.6), a maldição foi especificamente para
Canaã e seus descendentes, isto é, os cananeus da Palestina, e não Cuxe e Pute,
que provavelmente se tornaram os ancestrais dos etíopes e dos povos negros da
África. O cumprimento dessa maldição fez-se à época da vitória de Josué (1400
a.C.) e também na conquista da Fenícia e dos demais povos cananeus pelos
persas. Por fim, não se trata de uma maldição dirigida aos negros africanos
como costuma afirmar certos intérpretes. Os canaanitas foram totalmente
extintos segundo a posição de vários biblistas e historiadores.” (ensinopentecostal)
2. O enfraquecimento da doutrina
de Noé. Com a multiplicação de seus filhos, Noé
começa a perder o controle espiritual e moral sobre estes; sua doutrina já não
era seguida como antes. Haja vista que, Cam, seu filho, viu a nudez de seu pai,
e propagou-a a seus dois irmãos, um desrespeito à dignidade de Noé (Gn
9.20-24).
Sim, faltou muito pouco para que
esta nova civilização tivesse o mesmo destino da anterior. Além do mais, Noé
não estaria para sempre com os seus descendentes, a fim de refrear-lhes os
excessos e desatinos (Gn 9.29). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9,
1º Março, 2020]
“A morte de Noé foi o fim de
uma era. Somente ele e sua família viveram em dois mundos diferentes: uma terra
antes do Dilúvio e depois deste. A longa vida de Noé (950 anos) deu-lhe
oportunidade de transmitir a seus muitos descendentes a dramática história que
havia vivido com a sua família. Pessoas de diferentes culturas e muitos lugares
do mundo conhecem histórias de uma grande enchente no passado. Os detalhes de
cada uma podem ser diferentes, mas o tema central é único e permanece.” (bibliotecabiblica).
Com todo o respeito que o nobre
comentarista da lição merece, o velho Noé não conseguiria reter a maldade de
seus descendentes, nem que se mantivesse vivo pelo dobro de anos que viveu; Não
foi somente a maldição de Noé que determinou a culpa deles, pois Deus disse a
Abrão que a medida da iniqüidade dos amorreus precisava se encher antes que os
seus descendentes pudessem ocupar a Terra Prometida (15.16). Note, ainda, que
estes povos que descendem de Noé através de Cam, não apenas são povos
amaldiçoados em decorrência da maldição pela exposição da nudez de Noé
embriagado, mas também eram os povos que possuíam a Terra Prometida, que
Israel, como nação, precisava conquistar. Moisés precisava dar um ‘lastro’
histórico ‘motivacional’ para que o povo se encorajasse na conquista.
3. O descaso para com o
mandamento divino. Apesar de sua prodigiosa
multiplicação, os filhos de Noé ignoraram a ordem divina quanto à povoação da
Terra (Gn 9.7). Ao invés de se espalharem, aglomeraram-se desobedientemente num
só lugar. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9, 1º Março, 2020]
Os filhos de Noé, não demorou
muito, esqueceram das instruções de seu pai, e mesmo tendo Deus reafirmado aos
seres humanos a ordem para serem ‘fecundos, multiplicarem-se e encherem a
terra’ (Gn 9.7), este em atrevida rebeldia aglomeram-se em desobediência.
Os acontecimentos do presente relato ocorreram enquanto eles se dispersavam, e
ao encontrarem uma planície fértil, anteviram um lugar para se fixarem e se
tornarem inexpugnáveis, sob o comando do poderoso Ninrode.
SUBSÍDIO
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Mostre aos alunos que a
história narrada no presente tópico encontra-se em Gênesis 9.18-29.
Contextualize-os do encadeamento do relato bíblico: (1) Noé embriaga-se com o
vinho; (2) Sua nudez foi vista pelo seu filho mais novo, Cam; (3) Cam desdenhou
de seu pai aos seus irmãos, mas estes cobriram imediatamente a nudez de Noé;
(4) Ao recuperar os sentidos, Noé não deu sua bênção a Cam e concentrou
maldição a Canaã, seu neto, filho de Cam. É bom lembrar que a descendência de
Canaã foi marcada por imoralidades agudas, sendo assim, fonte de muita
corrupção para os israelitas. Esse relato trágico prepara o contexto simbólico
que forjará a Torre de Babel e suas consequências.
II. O GLOBALISMO DE BABEL
Naquele estágio, a civilização
iniciada por Noé dispunha de todos os fatores, para criar uma sociedade ímpia e
globalista: uma só língua, um só povo e uma só cultura. Levemos em conta,
igualmente, a ascensão de Ninrode e a tecnologia já acumulada para se construir
a cidade e a torre de Babel.
1. Uma só língua e um só povo. Até aquele momento, como já vimos, a humanidade falava um só
idioma e constituía-se num único povo (Gn 11.1). Pelo que inferimos do texto
sagrado, não havia sequer dialetos ou sotaques; a unidade linguística era
absoluta. Aliás, o mesmo se pode dizer de sua cultura.
O problema não era a unidade,
mas a unificação que se estava formando. Certamente, o Anticristo se
aproveitará de uma situação semelhante, a fim de implantar o seu reino logo após
o arrebatamento da Igreja (Ap 13.6-8). A ordem de Jesus é que o Evangelho não
se concentre em Jerusalém, mas que alcance os confins da Terra (At 1.8). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º
Trimestre 2020. Lição 9, 1º Março, 2020]
Se considerarmos a definição do
termo ‘globalismo’, talvez não tenhamos nesse
episódio algo que possamos, sequer, dizer que foi parecido. Talvez encontremos
um paralelo com o ‘nacionalismo’ [salvaguarda dos interesses
e exaltação dos valores nacionais. Sentimento de pertencer a um grupo por
vínculos raciais, linguísticos e históricos que reivindica o direito de formar
uma nação autônoma].
Deus, que fez o ser humano a
única criatura capaz de falar (Gn 1.28), reiteraria o dom da linguagem e usaria
a mesma para dividir a humanidade porque a adoração apóstata em Babel indicava
que o ser humano se revoltara orgulhosamente contra Deus (11.8-9). Assim,
devemos compreender que, O problema não era a unidade, mas a unificação
que se estava formando o povo enquanto se espalhava, decidiu parar e
edificar uma cidade como monumento ao seu orgulho e para se tornarem famosos. A
causa não foi a unificação ou unidade, mas o
orgulho obstinado que contaminava o coração daqueles homens! A torre, mesmo
fazendo parte de um plano, não foi o único ato de rebelião. Foi o orgulho
humano que levou essas pessoas a provocar Deus. Eles estavam se recusando a
prosseguir caminho, ou seja, espalhar-se para encher a terra conforme tinham
sido instruídos. Na verdade, essa foi a tentativa de Ninrode [descrito como
um poderoso caçador diante da face do Senhor (v. 9). E o princípio do seu reino
foi Babel, e Ereque, e Acode, e Calné, na terra de Sinar. Desta mesma terra
saiu ele à Assíria e edificou a Nínive, e Reobote-Ir, e Cala. O profeta
Miquéias mais tarde descreveria a região da Assíria, que sofreria julgamento de
Deus, como a terra de Nínrode (Mq 5.6)] e do povo de desobedecer ao
mandamento de Deus dado em Gn 9.1, e assim derrotar o conselho do céu.
2. A construção de Babel. Os filhos de Noé não eram ignorantes nem careciam de tecnologia,
pois haviam sido capazes de executar o projeto da arca (Gn 6.14-16). E, de tal
forma a construíram, que o grande barco resistiu aos ímpetos do Dilúvio. Por
conseguinte, a construção de uma cidade, em cujo epicentro havia um
arranha-céu, era apenas uma questão de tempo. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição
9, 1º Março, 2020]
Sobre o fato de poderem ter
construído a arca de maneira que suportou o dilúvio, certamente é um vislumbre
do avanço tecnológico alcançado por aquele povo primevo. No entanto, não
podemos esquecer que foi Deus quem projetou aquela arca, Noé apenas construiu o
que lhe foi entregue!
Ao chegarem na terra de Sinar,
uma região da antiga Babilônia, na Mesopotâmia (Gn 10.10), tiveram que fazer
tijolos porque não havia pedras na região. A utilização de enormes pedras,
pesando várias toneladas, veio mais tarde. Aquela torre de fato era alta, no
entanto, há aqui evidentemente, uma hipérbole, eles não intentavam de fato
atingir a habitação de Deus. Eles queriam que a alta torre fosse um momento
alusivo às suas habilidades, que enaltecesse a sua fama. No empreendimento,
eles desobedeceram a Deus e tentaram roubar a glória que pertencia a ele.
Motivadas pelo orgulho e pela arrogância, essas pessoas pretendiam, com a
edificação da torre, fazer com que seus nomes ficassem famosos; temiam ser
dispersas, pelas circunstâncias ou pelo Senhor, e não alcançar a grandiosidade
de sua ambição.
SUBSÍDIO
BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O cenário desta
história curta, mas intrigante, forma-se depois do dilúvio com os descendentes
de Noé que se agruparam por uma língua comum e logo começaram a migrar para
novos territórios. [...] A história nos conta que, em assembleia, os novos
habitantes de Sinar tomaram uma decisão totalmente fora da vontade de Deus. O
propósito da ação proposta é claro. Queriam fama: Façamo-nos um nome (4). E
desejavam segurança: Para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a
terra. Ambas as metas seriam alcançadas somente pelo empreendimento humano. [...]
O interesse principal deste povo estava numa torre (4), embora também houvesse
a construção de uma cidade. A torre ia alcançar os céus” (Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a
Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, p.55).
III. A INTERVENÇÃO DE DEUS EM BABEL
Para salvar a humanidade de si
mesma, Deus interveio, confundindo-lhe a língua. Em seguida, dispersou os
descendentes de Noé, para que povoassem as mais distantes ilhas e continentes.
Em seguida, o Senhor chamou Abraão para ser o pai, na fé, de todas as famílias
da Terra.
1. A confusão das línguas. Visando colocar um ponto final naquele projeto, o Senhor Deus
desce à Terra, e, ali, em Sinear, confunde a língua daquela civilização (Gn
11.5-7). Desentendendo-se, os filhos de Noé reagrupam-se de acordo com sua nova
realidade linguística, e espalham-se por toda a terra.
A rebelião daqueles homens fora
realmente grande. Mas como Deus havia prometido não mais destruir a
humanidade (Gn 9.11), decide espalhá-la para que os homens, separados uns
dos outros, tivessem mais oportunidade de sobreviver numa terra contaminada
pela apostasia. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9, 1º Março, 2020]
Esclareço que, Gn 11.5 “Então,
desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens
edificavam”, é um modo de falar da onisciência de Deus (Gn 18.21). Não era
necessário que Deus, de alguma forma, precisasse descer à terra para ver ou
saber o que se passava.
É interessante notar, ainda, que
Deus tem suas formas de punir a humanidade corrompida, mas pior for forma é
entregar o homem ao seu próprio coração. Isso mais uma vez se evidencia aqui,
quando vemos que o Senhor se mostra preocupado com a potencialidade da
humanidade de tornar-se tão pervertida quanto era antes do Dilúvio. O Criador,
em Sua infinita misericórdia, toma providências para que isto não acontecesse.
Então, o ato de espalhar os homens pela terra foi sim um ato de amor e de
misericórdia, impedindo que aquela segunda recriação também se perdesse em
nulidade como a primeira. Há três grandes julgamentos de pecados cometidos pela
humanidade na primeira parte de Gênesis (Gn 1—11). O primeiro é a expulsão do
Éden (Gn 3); o segundo é o Dilúvio (Gn 6—9), e o terceiro é a dispersão das
pessoas de Babel (Lc 1.51).
Quanto ao fato de que Deus
havia prometido não mais destruir a humanidade note que a afirmativa não é
verdadeira, isso sob a luz de 1Pe 3.10-11; Ap 20.9 e 21.1. A promessa
específica dessa aliança com Noé, foi de nunca mais destruir o mundo pela
água, qualificada pelo meio (água) descrito, pois Deus prometeu destruir a
terra um dia por meio do fogo, como se depreende dos textos já citados.
Pelo fato de se recusarem encher
a terra como Deus lhes havia ordenado, ele confundiu a língua que até ali era a
mesma para todos eles, de modo que tiveram que se separar e fixarem regiões
onde a sua própria língua era falada.
2. O efetivo povoamento da
Terra. Sabemos que Deus forçou os descendentes de
Noé aos confins do mundo (Gn 11.9). Caso isso não tivesse acontecido, aquela
geração teria o mesmo destino dos pré-diluvianos.
Assim como aquela geração chegou
aos confins do mundo, o Senhor Jesus ordena-nos a levar o Evangelho até que
todos os povos e nações venham a ouvir as Boas Novas (Mt 28.18-20). Quando isso
acontecer, então virá o fim (Mt 24.14). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9,
1º Março, 2020]
Foi a partir do relato de Gn 11.9
que Israel compreendeu não somente como tantas nações, povos e línguas chegaram
à existência, mas também as origens rebeldes do seu inimigo arquetípico, a
Babilônia (Gn 10.5, 20, 31).
3. A eleição de Sem. A história de Abraão começa logo após a dispersão de Babel (Gn
11.26-30). Com a eleição de Sem, delineia-se mais claramente o período
messiânico, que haveria de culminar em Jesus Cristo, o Filho de Deus (Gn 9.26;
Lc 3.23-38).
Em sua infinita sabedoria, fez o
Senhor duas coisas por ocasião da torre de Babel: dispersou os filhos de Noé e,
em seguida, chamou Abraão, para dar continuidade à linhagem messiânica, da qual
sairia Jesus, o Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 1º Trimestre
2020. Lição 9, 1º Março, 2020]
Aqui é importante frisar que Noé
amaldiçoa o filho mais novo de Cam, Canaã, e a usa para fazer uma predição
sobre a prosperidade dele. Basicamente a predição é que os cananitas
eventualmente seriam subjugados pelos descendentes de Sem e Jafé. Em Gn 10.6
diz que “Os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.”; e do verso 15 ao 20
diz: “Canaã gerou a Sidom, seu primogênito, e a Hete, 16e aos
jebuseus, aos amorreus, aos gírgaseus, 17aos heveus, aos
arqueus, aos sineus, 18aos arvadeus, aos zemareus e aos
hamateus; e depois se espalharam as famílias dos cananeus. 19E
o limite dos cananeus foi desde Sidom, indo para Gerar, até Gaza, indo para
Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim, até Lasa.20São estes os filhos de
Cam, segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas
nações”. Assim, não é correto afirmar que a maldição de Noé recai sobre os
Africanos, já que o enfoque da narrativa é sobre os ancestrais cananeus. Ora,
em termos gerais, Cuxe é provavelmente o ancestral dos povos da Etiópia;
Mizraim é o ancestral dos egípcios; e Pute é o ancestral dos povos do norte da
África, os líbios. Todos os povos citados em Gênesis 10.15–18 eram habitantes
de Canaã e proximidades, não da África. E a predição de Noé se tornou verdade
quando as nações cananitas foram expulsas pelos israelitas por causa de sua
perversidade (Dt 9.4–5). Então a maldição não recai sobre os povos africanos,
mas sobre os cananitas!
Ao descrever a genealogia de Sem,
Israel aprendeu como a geração que aquela geração que sobreviveu ao dilúvio
estava relacionada ao próprio pai deles, Abrão (v. 26), mais tarde conhecido
como Abraão (Gn 17.5). em Gênesis 12, Deus coloca em ação um grande plano
redentor para todas as nações, para resgatá-las dessa e de qualquer outra
maldição de pecado e julgamento. Abrão foi chamado para abençoar todas as
nações: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;
em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Notadamente, “Todas as famílias
da terra” inclui também as famílias cananitas! Então o que vemos é que, com
Abraão, Deus está colocando em ação um plano de redenção que derruba cada
maldição sobre qualquer pessoa que recebe a bênção de Abraão, a saber, o perdão
e a aceitação de Deus que vem através de Jesus Cristo, a semente de Abraão (Gl
3.13–14).
SUBSÍDIO
BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O paganismo estava
indiretamente envolvido nesta história, pois havia um ímpeto construtivo em
direção ao céu e o único verdadeiro Deus foi definitivamente omitido de todo o planejamento
e de todas as metas. Mas Deus não estava inativo. Ele observava o que estava
acontecendo e logo mostrou sua avaliação da situação. O homem não foi criado
como ser independente de Deus. Ser ‘à nossa imagem’ (1.26) significava que o homem
estava dotado de grandes poderes e que era totalmente dependente de Deus para
sua essência de vida e razão de ser. [...] O julgamento de Deus logo manifestou
estas ilusões. Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem Deus,
Ele introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o
caos. O grande projeto foi abandonado e a sociedade unida, mas sem temor de Deus,
foi despedaçada em segmentos confusos. Em hebraico, um jogo de palavras no
versículo 9 é pungente. Babel (9) significa ‘confusão’ e a diversidade de
línguas resultou em balbucios ou fala ininteligível” (Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a
Deuteronômio. Rio de Janeiro: CPAD, p.55).
CONCLUSÃO
A fim de preservar a sua obra, o
Senhor Deus promulgou duas ordenanças quanto à sua criação. Em primeiro lugar,
a povoação de toda a Terra (Gn 9.7). E, por último, a Grande Comissão, através
de Jesus Cristo: “É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide,
ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis
que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!” (Mt
28.18-20).
Contra o globalismo, cuja missão
é submeter o mundo aos caprichos de Satanás, só mesmo a obediência aos termos
da Grande Comissão. Evangelização e missões, já. Maranata, ora vem, Senhor
Jesus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 1º Trimestre 2020. Lição 9, 1º Março, 2020]
Concluindo, de fato, assim como a
expulsão do primeiro casal do Éden foi um ato de amor e misericórdia de Deus, a
fim de que o homem caído e propenso ao mal não tomasse do fruto da árvore da
vida e vivesse eternamente nesse estado caído, Babel trouxe à tona mais uma vez
esse ato bondoso do Criador, a fim de que aquela humanidade recém-recriada não
fosse destruída! Interessante, não? Geralmente pensamos nesses dois fatos como
punitivos, quando na verdade não o são! Quanto à Grande Comissão, é a ordem que
Jesus deu para ir e fazer discípulos em todo o mundo. A Grande Comissão é uma
ordem para todos os crentes. Não foi dada para combater o globalismo, nem as
trevas, ou os caprichos de Satanás. A Grande Comissão é uma obra evangelizadora
e discipuladora. Ela objetiva implantar o reino de Deus fazê-lo expandir-se
pelos confins da terra! Não é uma guerra entre dois reinos, ou entre
ideologias! É uma missão gratificante que ‘pesa’ sobre nós, nos tornando
cooperadores na obra do Reino, a fim de ‘apressarmos’ a volta do Rei! Somos
enviados ao mundo levando a mensagem gloriosa de que o Pai enviou o Filho para
ser o Salvador do mundo, e, com esse propósito, fazer expiação pelos nossos
pecados e nos dar a vida eterna (1Jo 4.9-10, 14). Na verdade, ele mesmo disse
que havia vindo para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10). Assim, nossa
motivação para Missões não pode ser Contra o globalismo, cuja missão é
submeter o mundo aos caprichos de Satanás, mas a oração: Maranata! – Ora, vem
Senhor Jesus!
Francisco Barbosa
Disponível no blog:
auxilioebd.blogspot.com.br