SUBSÍDIO I
RESISTINDO O INIMIGO
O capítulo 4 deste livro
apresenta um estudo sobre a origem, a natureza e as ações de Satanás e seus
correligionários, os demônios, de modo que não há necessidade de descrevê-los
aqui. O objetivo deste capítulo é mostrar e explicar como resistir o diabo para
que ele se afaste cada vez mais de nós. O Senhor Jesus provou na tentação do
deserto que o diabo não é invencível, desde que se resista a ele com a Palavra
de Deus. Veja que Jesus resistiu às três últimas investidas do diabo no deserto
com um “está escrito” que não deu chance alguma ao Maligno, de modo que “o
diabo o deixou” (Mt 4.11). O relato de Lucas afirma que o diabo se ausentou de
Jesus temporariamente: “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele
por algum tempo” (Lc 4.13). Quando os crentes se revestem do Senhor Jesus e da
força do seu poder contra as astutas ciladas do diabo (Ef 6.10, 11), devem
depois de tudo isso “ficar firmes” (v. 13). Isso porque o diabo volta a atacar.
Mesmo depois de derrotado no deserto, o diabo continuou insistindo; o Novo
Testamento conta que Jesus foi tentado não somente nos quarenta dias
imediatamente após o batismo no rio Jordão, mas durante todos os dias do seu
ministério (Lc 22.28; Hb 4.15). Isso mostra que Satanás é persistente no
ataque, e na vida cristã não é diferente. O fato de ele fugir de nós pela nossa
resistência não significa que a vitória seja definitiva, por essa razão devemos
estar atentos em todo o tempo.
A primeira parte
do capítulo 4 de Tiago apresenta uma lista de comportamentos que devem estar
longe da vida cristã. São as paixões resumidas em quatro categorias: 1)
contenda entre irmãos, 2) mundanismo, 3) insubmissão a Deus e 4) maledicência.
[...] A batalha
espiritual é uma realidade. A luta de todo aquele que serve ao Senhor Deus é
contra o pecado, que pode ser uma tentação do diabo ou da própria carne. Muitas
vezes, o desafio surge no modo como tratamos os irmãos e as irmãs, daí a
necessidade de prestar atenção para apresentar diante de Deus todas as coisas,
inclusive nosso comportamento. A contenda entre irmãos, o mundanismo, a
insubmissão a Deus e a maledicência são alguns aspectos que devem estar sob
vigilância na batalha. Devemos, portanto, nos colocar na presença de Deus a fim
de resistir a esses inimigos.
Texto extraído da
obra “Batalha
Espiritual”, editada pela CPAD
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A Epístola de Tiago foi escrita por volta do ano 45
d. C., sendo um dos primeiros textos apostólicos. Essa carta foi destinada aos
primeiros cristãos dispersos, de origem judaica no contexto do império romano
(Tg. 1.1). Esses crentes faziam parte do “movimento de Jesus”, e ainda se
reuniam nas sinagogas, seu principal objetivo era integrar fé e obras, enquanto
sabedoria prática, que provém do alto (Tg. 3.14,15).
I. ANÁLISE
TEXTUAL
No texto em foco, a ênfase é posta na causa das
guerras – pólemos - e pelejas – machai, que também pode ser
traduzido por disputas. Tiago diz que elas provém dos vossos deleites –
hedonon, ou prazeres ou paixões, que guerreiam – strateomai – que entram em
confronto – em vossos membros? (v. 1). Ao invés de pedir a Deus, e buscar o que
edifica, muitos preferem cobiçar – epithumeite – desejar ardentemente, e isso
leva a um tipo de frustação, por não ser capaz de alcançar – epithuchein. Ao
invés de orar com sabedoria, e pedir as coisas que são do alto, as pessoas
pedem mal, para gastar – depanesete – esse verbo expressa o desejo de consumir
(v. 3). O grande problema é que as pessoas se deixam controlar pela filosofia
deste mundo – kosmu – aqui se referindo aos padrões anti-Deus, que regem a
esfera humana. O que tem neste kosmos é adultério – moichalides – não apenas no
sentido sexual, mas também de se deixar contaminar com os valores desta era.
Aqueles que se tornam amigos do mundo, acabam por se tornarem inimigos de Deus
(v. 4). A Escritura é bastante clara, ao afirmar que o Espírito que habita no
crente tem ciúmes - phthonos – tanto pode ter um sentido negativo, como ciúme e
inveja, quanto positivo, que é o caso nessa passagem, com o sentido de zelo (v.
5). Há um paradoxo no texto, pois Deus dá graça – charin – aos humildes – tapeinos
– no contexto de Tiago, aquelas pessoas que são marginalizadas, mas aos
soberbos – huperefanois – arrogantes e orgulhosos, com base no que possuem (v.
6). A opção apresentada pelo apóstolo é sujeitar-se – hupotagete – colocar-se
sob o controle – de Deus, e resistir – antistete – também se opor – ao Diabo,
então esse fugirá de vós (v. 7). É preciso se chegar mais a Deus, e ele se
chegar a vós, diz Tiago. E mais, limpai as mãos, e purificai o coração –
kardia, sobretudo aqueles de ânino dobre – dipsuchoi – que ficam entre dois
pensamentos, não se definem a quem agradar, se a Deus ou ao mundo (v. 8). Para
tanto, devem sentir as vossas misérias – telaporeisate – lamentar e chorar –
converter o riso em pranto; e o gozo, em tristeza. E mais: humilhar-se – tapenoithete
perante o Senhor, somente ele pode exaltar – hupsosei – no futuro, de maneira
oportuna.
II. INTERPRETAÇÃO
TEXTUAL
O pecado da dissensão, naquela comunidade
eclesiástica, era resultante da falta de sabedoria do alto (Tg. 3.13-18), que
tinha relação com a mundanidade, ou seja, aos valores daquela época que estavam
adentrando à igreja. Muitas disputas que acontecem no seio da igreja são
provenientes dos desejos (gr. hedone – paixões), que fazem com que as pessoas
entrem em conflito umas com as outras (v.1). É muita cobiça envolvida,
sobretudo nos tempos atuais, marcado pelo consumismo, as pessoas estão deixando
de valorizar o que é espiritual, e se tornando extremamente mundanas, se
apegando ao que é da terra, em detrimento do que é do céu. Essa condição se
reflete na própria oração, pois as pessoas expressam em suas palavras aquilo
que desejam. Uma demonstração prática disso é a famigerada teologia da
ganância, que incita os crentes a buscarem enriquecimento terreno, trazendo
sobre elas mesmas sofrimento e frustração (v. 2). Por causa disso, as orações
são equivocadas, pessoas que pedem apenas para satisfazerem seus deleites, não
que o prazer seja pecado em si, mas esse não pode controlar as pessoas (v. 3).
Quando isso acontece, nos tornamos adúlteros e adúlteras, no sentido
espiritual, pois desejamos o mundo, como se esse fosse a razão da existência
(v. 4). Ninguém que ama este mundo pode dizer que é amigo de Deus, pois são
incompatíveis (I Jo. 2.15,16; 5.19). O mundo, nesse contexto, não se refere ao
mundo físico, muito menos às pessoas, mas ao sistema anti-Deus, que se opõe aos
valores do Reino de Deus (Mt. 6.24). O Espírito que habita em nós é um real, e
tem sentimentos e vontades, por isso sente zelo por aqueles que se entregam aos
prazeres do mundo (v. 5). A graça de Deus é para aqueles que se humilham, ou
seja, que se submetem à vontade de Deus (I Pe. 5.5), se opõem à arrogância e ao
orgulho, e se fiam na providência divina, dependem daquilo que Deus dá, o pão
nosso de cada dia (v. 6). É preciso resistir ao diabo, e uma das melhores
maneiras de fazê-lo é se aproximando de Deus (I Co. 10.13), pois somente assim
Satanás fugirá de nós, como aconteceu com Cristo, ao ser tentado (Lc. 4.13). Se
quisermos nos aproximar de Deus, devemos purificar nossas vidas, chorar nossa
condição de pecado, reconhecer a misericórdia divina (v. 8,9), como orientaram
os profetas do Antigo Testamento (Is. 15.2; Jr. 6.26). E para concluir, de
maneira resumida, Tiago reforça que devemos ser humildes – viver um estio de
vida simples – se quisermos ser exaltados por Deus (Mt. 23.12), ter cuidado
para não se deixar levar por um modelo de religiosidade que apenas valoriza o
que se tem, diferente daquele ensinado por Jesus, sobretudo no sermão do monte
(Mt. 5-7).
III. APLICAÇÃO
TEXTUAL
O mundo é movido pela ganância, essa é a causa das
guerras e conflitos, não apenas entre os não-cristãos, mas também entre os
cristãos. O mundo jaz no maligno (I Jo. 5.19), e esse é inimigo de Deus, por se
opor à sua vontade (Rm. 8.6-8; 12.1,2). Uma das formas de Satanás, que é o deus
deste século, manipular as pessoas (II Co. 4.4), é através do desejo
desenfreado, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba
dos olhos (I Jo. 2.16-17). O pecado dos nossos primeiros pais no Jardim do Éden
se deu através do olhar, e o desejo de ser igual a Deus, se apropriando daquilo
que Ele havia proibido (Gn. 3.6). O desejo de enriquecer, inspirado na inveja
do outro, está levando muitas pessoas à ruina, afinal o amor ao dinheiro é a
raiz de todos os males (I Tm. 6.10-12). Mamom é o deus que governa o mundo dos
negócios, e sacrifica muitas vidas, a fim de ser adorado, por isso Jesus
advertiu quando a essa divindade, e foi categórico ao afirmar que ninguém pode
servir a dois senhores (Mt. 6.24). A alternativa cristã contra a idolatria do
dinheiro é um estilo de vida simples, pautado no contentamento, pois é assim
que Deus deseja que vivamos (Lc. 3.14; Fp. 4.12; Hb. 13.5). Contentamento não
significa comodismo, ninguém está proibido de buscar viver melhor, e até mesmo
de prudentemente reservar um pouco para os dias difíceis, mas não se pode
confiar nas riquezas. Jesus nos ensinou a viver sem o frenesi das preocupações,
sobretudo em relação ao que teremos para viver no futuro (Mt. 6.24-33). O
problema é que as pessoas estão sendo seduzidas pelo consumismo, comprando
coisas que não precisam, apenas para agradar as outras pessoas. Essas pessoas,
ainda que não percebam, estão no ritmo de vida do mundo, e por essa razão,
estão adulterando espiritualmente, pois amam mais o presente século do que a
Deus. A cobiça e o hedonismo não é um estilo de vida compatível com o cristão,
ainda que tenhamos sido criados para o prazer, não podemos deixar que os
deleites da vida nos controlem (I Co. 6.12).
CONCLUSÃO
As advertências de Tiago são necessárias, caso
queiramos resistir ao diabo. A melhor maneira de fazê-lo, conforme instrução do
próprio apóstolo, é sujeitar-se e se achegar cada vez mais a Deus. A vitória
sobre os poderes do mundo depende de Deus, mas nós também somos participantes,
na medida em que buscamos viver no Espírito (Gl. 5.22), não satisfazendo os
desejos desenfreados da carne (Gl. 5.16). É preciso se arrepender dos pecados,
sentir as misérias, lamentar e chorar, a fim de receber a graça de Deus, pois o
Senhor abate os orgulhosos, mas eleva os humildes (Tg. 4.6,10).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog
subsidioebd.blogspot.com
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Essa seção da
epístola de Tiago é, em outras palavras, um chamado à santidade. A carta é
dirigida aos cristãos do primeiro momento da história sagrada. Tiago mostra que
resistir ao Diabo já era um bom começo. A presente lição esclarece por que
devemos resistir às paixões e mostra ainda que a amizade com o mundo é
inimizade contra Deus. Um bom início de preparação para a aula desta semana é
estudar a Carta de Tiago. Assim, é possível compreender bem contexto em que se
encontra a seção que nos interessa. Logo, será possível perceber em seus
estudos que o contexto da seção versa a respeito do "chamado à
santidade". Esse procedimento é importante porque a ausência dele permite
ao movimento moderno de "batalha espiritual" distorcer e forçar tanto
o texto bíblico.
Tiago, o Justo, um dos irmãos de Jesus (Mt 13.55; Mc
6.3), é o autor dessa epístola. Convertido após a ressurreição de Jesus (Jo
7.3-5; At 1.14; 1 Co 15.7; Gl 1.19), tornou-se líder da igreja em Jerusalém, e
é apontado por Paulo como um dos pilares da igreja (Gl 2.9). No capítulo 4.4-7,
Tiago afirma que amar ao mundo é inimizar-se com Deus e que aquele que é amigo
do mundo por isso mesmo se constitui em inimigo de Deus. É importante o que
Tiago quer dizer. Note o que disse Jesus: "Ninguém pode servir a dois
senhores" (Mt 6.24). Todo o capítulo nos fala de Purificação para cristãos
(1 Co 3.1-4):
(1) a luta com o pecado (v. 1-4);
(2) o desejo de Deus de liberar maior graça (v. 5,6);
(3) o caminho da bênção (v. 7-1 O).
Tiago explica que o conflito dentro de nós está
entre nossos deleites pecaminosos e o desejo de cumprir a vontade de Deus, uma
atitude que o Espírito Santo colocou dentro de nós (v. 5). A fonte do conflito
entre os cristãos muitas vezes são coisas materiais, ele então, atribui
dissensões, assassinatos e guerras ao materialismo – o que João também adverte
os cristãos sobre cobiçar o que no mundo há (1Jo 2.15,16). No versículo 7
encontramos duas ordens: primeiro, devemos sujeitar-nos a Deus, abandonando
nosso orgulho egoísta (v. 1-6). Sujeitar-se ao Senhor também implica
revestir-se de toda a armadura de Deus, uma imagem que inclui tudo, desde
depositarmos nossa fé nele a mergulharmos na verdade da Palavra de Deus (Ef
6.11-18). Segundo, devemos resistir a qualquer tentação que o diabo lançar em
nosso caminho. Então o maligno não terá outra escolha: ele fugirá, pois
pertenceremos ao exército do Deus vivo. – Dito isto, convido-o a pensar
maduramente a fé cristã!
I. A
EPÍSTOLA DE TIAGO
A Epístola de Tiago
é o escrito mais antigo do Novo Testamento e tem por objetivo evitar
desentendimentos entre os discípulos de Cristo. Segundo a maioria dos
expositores bíblicos, a sua composição não vai além do ano 45 d.C.
A epístola de
Tiago é datada por volta de 45 d. C., bem antes do primeiro concílio em
Jerusalém, que se deu por volta de 5 O d. C., o que torna a mais antiga
epístola do Novo Testamento. Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi
morto por volta do ano 62 d. C.
1.
Destinatários. A carta foi dirigida especificamente aos primeiros cristãos dispersos,
de origem judaica, pelo vasto império romano (Tg 1.1); e, de maneira geral, a
todos os crentes em Jesus em todos os lugares e em todas as épocas. Trata-se de
um livro prático, muito próximo do Sermão do Monte proferido por Jesus em
Mateus 5 a 7 e importantíssimo para a conduta do cristão.
Os
destinatários da epístola são os judeus dispersos convertidos ao cristianismo,
daí o tom austero e a linguagem peculiar aos judeus. Nesta epístola, Tiago faz
uma contraposição entre o ensinamento judaico de ter fé no único Deus, com o
ensinamento do evangelho, que é ter fé em Jesus Cristo, pois de nada adianta
alguém dizer que crê em Deus, mas que não obedece o mandamento de Deus, que é
crer em Cristo.
“Os destinatários da carta são identificados como
as “doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tiago 1:1). Esta linguagem
admite duas interpretações. No Antigo Testamento, a nação de Israel foi
conhecida como as doze tribos, descendentes dos filhos de Jacó. Se Tiago usa o
termo neste mesmo sentido, o conteúdo do livro mostra que esses judeus seriam
pessoas já convertidas a Cristo. No Novo Testamento, porém, o foco está em
Israel espiritual, aqueles que imitam a fé de Abraão, independente da sua
descendência carnal. O próprio Jesus introduziu esta ideia (João 8:39-40), e
seus seguidores empregaram termos como judeus e as doze tribos neste mesmo
sentido (Romanos 2:28-29; Apocalipse 7:4 comparado com 14:3-5).” (ESTUDOS DA BÍBLIA)
2.
Conteúdo. O conteúdo da epístola parece confirmar essa antiguidade, isso pelos
aspectos cristológicos praticamente ausentes. O nome de Jesus só aparece duas
vezes nos seus cinco capítulos (Tg 1.1; 2.1). Há pouco ensino doutrinário, pois
a assembleia dos discípulos era ainda tida como sinagoga: "Porque, se
entrar na sinagoga de vocês um homem" (Tg 2.2, Nova Almeida Atualizada). O
termo "igreja" aparece aqui (Tg 5.14), mas o emprego da palavra
"sinagoga" como alternativa mostra que Tiago vem de uma época em que
os discípulos eram chamados de "o movimento de Jesus”.
- O Reformador Martinho Lutero via esta epístola com
muita ressalva, ele não conseguiu enxergar nela os mesmos ensinos paulinos. A
má compreensão da abordagem de Tiago fez com que Martinho Lutero detestasse a
essa epístola, denominando-a “epístola de palha”. Diferente das epístolas de
Paulo, Pedro e João, a carta de Tiago não inclui saudações pessoais. As
exortações começam no segundo versículo e continuam até o último. É uma
carta didática e moral, não aparece um plano doutrinal previamente elaborado,
vemos um desenrolar de temas ao sabor da pena do autor, mas sem fugir ao tema
“santidade”, numa convocação a que os crentes vivam o espírito cristão em todas
as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita unidade de vida - o
comportamento dos crentes tem de ser um reflexo da sua fé. É interessante notar
que encontramos apenas em Tiago a ordem de ungir os enfermos (5.13-15). O fato
de que o termo ‘sinagoga’ seja utilizado com frequência pode ser explicado pelo
público-alvo da carta: os judeus-cristãos dispersos.
3.
Tema. Ao
separar a fé das obras, a epístola enfatiza o cristianismo prático e nos dá
munição para resistir ao Inimigo e ao pecado. Tiago retoma o tema tratado no
capítulo anterior sobre a "amarga inveja em sentimento faccioso em vosso
coração" (Tg 3.14), próprio de uma sabedoria "terrena, animal e
diabólica" (Tg 3.15) e presente na vida daqueles primeiros cristãos. Esses
problemas vêm atravessando os séculos e hoje não é diferente, pois o problema
da natureza humana permanece o mesmo. O ensino aqui está tratando do caráter
cristão que precisa ser afinado com o sentimento de Cristo.
A pequena epístola de Tiago, provavelmente um dos
primeiros livros do Novo Testamento, oferece orientações práticas para conduzir
cristãos no seu serviço ao Senhor. É interessante notar a praticidade do
conteúdo apresentado, sem rodeios e sem enfeites, Tiago trata de temas do
cotidiano, por exemplo, ele afirma sobre a sabedoria humana (v. 15,16), que nada
mais é que interesse próprio, então não se deve vangloriar-se dela; Não ser
apenas tardio para falar, mas deve-se abandonar também a mentira! Se a
sabedoria se manifesta sem boa conduta e mansidão, ela não vem do alto. Na
verdade, ela é caracterizada como terrena; prudente, segundo os padrões do
mundo; sensual (do grego psuchikos), no sentido de natural em
oposição a espiritual, e diabólica.
“Os temas abordados nos cinco capítulos de Tiago
são diversos, todos focando a importância de viver conforme a fé:
● Capítulo 1 enfatiza as atitudes certas diante de
provações e tentações e chama os leitores a serem praticantes, e não apenas
ouvintes, da palavra do Senhor.
● Capítulo 2 aborda dois assuntos: (1) a condenação de
preconceitos socioeconômicos na igreja e (2) a necessidade de obras que
demonstram a autenticidade da fé.
● Capítulo 3 apresenta uma das advertências mais fortes
do Novo Testamento sobre o uso errado da língua e nos chama a buscar a
sabedoria divina.
● Capítulo 4 condena várias atitudes carnais que
atrapalham o serviço a Deus.
● Capítulo 5 encerra a epístola com várias instruções
que exigem uma perspectiva eterna e espiritual, e não materialista e carnal.” (ESTUDOS DA
BÍBLIA)
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Para introduzir a lição dessa semana, sugerimos
reproduzir o esquema proposto conforme a sua possibilidade e fazer uma
exposição geral a respeito da epístola.
II. OS
DELEITES DA VIDA
Tiago emprega aqui
uma metáfora que ainda hoje usamos em nossos debates, discussões e conversas
sobre dificuldades nas mais diversas áreas da vida.
1.
Guerras e pelejas (v.1). Há quem afirme que essas guerras e pelejas sejam uma referência às
disputas internas que havia entre os judeus de Jerusalém nos levantes contra
Roma. A população da Judeia estava dividida nessa época sobre a luta pela
libertação do poder romano. Mas não é disso que Tiago está falando aqui. Essas
palavras metafóricas são pesadas e mostram o nível das disputas entre os
crentes por causas dos deleites, ou seja, os maus desejos interiores (v.2). Não
se trata aqui de debates teológicos entre os mestres. A expressão "guerras
e pelejas" refere-se às discussões acirradas sobre "o meu e o
teu", e isso é muito grave.
“Por que existem conflitos, discórdias e males
entre as pessoas cristãs? Tiago, o meio-irmão do Senhor, retoricamente, pergunta:
"Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites que nos vossos
membros guerreiam?" (v.1). Esta é a origem dos conflitos e das discórdias
que o autor da epístola descreve na seção bíblica 3.1-3. Quão enganoso e
destrutivo é o coração humano! No terceiro capítulo, Tiago demonstra que a
maioria das nossas desavenças e tramas perversas é fruto da ambição, ignomínia
e sede de vermos o nosso desejo realizado. E qual o objetivo desta realização?
O deleite! O líder da igreja de Jerusalém expõe a nudez da alma humana. Daí é
que surgem muitas frustrações espirituais e da própria alma. O indivíduo tem
uma relação com Deus não segundo a vontade divina, mas a sua própria, pois
colocaram em sua cabeça que as bênçãos de Deus são para os seus deleites e prazeres.
Neste ponto, Tiago é taxativo: "Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e
cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque
não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos
deleites" (4.2,3). "Porque não pedis", Tiago destaca esta
expressão para compará-la, logo em seguida, com a outra posterior: "Pedis
e não recebeis". Porque alguém pede a Deus e não recebe, já que o nosso
Senhor prometeu dar-nos tudo o que pedíssemos em seu nome? Esta é uma pergunta
que só pode ser respondida à luz de um autoexame sincero, pois a Palavra
responde com clareza: "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o
gastardes em vossos deleites". Temos de ter o cuidado, para não
confundirmos a vontade de Deus com a nossa própria. Não podemos usar o nome de
Deus para realizar as vontades e os prazeres particulares. Deus não se usa!
Portanto, desafie a classe para um autoexame honesto, sincero e transparente à
luz da Palavra de Deus. Nada é melhor que o homem desnudar-se na presença do
Altíssimo. O nosso Pai sabe o que está em nosso coração e qual a nossa
verdadeira motivação de vida diante dEle. Num tempo dominado pelas ambições e
prazeres humanos, a palavra ensinada por Tiago chega a uma ótima hora e
desafia-nos a olharmos para nós e perguntarmo-nos: o que há em meu coração?” (Revista
Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.41.)
2. Os
deleites. Ou maus desejos que eram a motivação dessas pelejas: "dos vossos
deleites" (v.1). O termo "deleites" (vv. 1,3) é
hedoné que aparece cinco vezes no Novo Testamento para descrever deleites ou
prazeres ilícitos (Lc 8.14; Tt 3.3; Tg 4.1,3; 2 Pe 2.13). Originalmente
significava o prazer experimentado pelo sentido do paladar, posteriormente por
meio dos outros sentidos e da mente; no período helenista, o conceito se
restringiu ao significado de "gozo sensual, deleite sexual". É a
procura indiscriminada do prazer. O hedonismo permeia o pensamento pós-moderno.
Hoje, qualquer esforço disciplinado ou o mínimo de sacrifício para se atingir
um objetivo são tratados com profundo desgosto.
“1.
Desejos Errados e Desastre Espiritual (4.1,2b) - Tiago dá uma resposta
afirmativa à sua própria pergunta, mas ele sabe que é a mesma resposta que seus
leitores ouvirão de uma consciência acusadora. Vocês colocaram seu coração
naquilo que o mundo pode lhes dar e, como resultado, vocês estão em
dificuldade. Desejos mundanos conflitam uns com os outros. Esses deleites
(“prazeres”, ARA), que nos vossos membros guerreiam (v. 1), perturbam vossa
própria paz de espírito, por isso vocês brigam e matam e espalham o conflito
aos outros. O principal problema é que vocês permitem que desejos profanos
possuam seu espírito. Esses desejos, se impuros e incontrolados, levam ao
desastre espiritual. Se analisarmos esse texto de acordo com 3.14, ele é melhor
interpretado por: sois invejosos (“matam”, cf. KJV e NVI e ARA), combateis e
guerreais de maneira figurativa. Não é provável que essas coisas tenham, na
verdade, ocorrido na comunidade cristã. Tanto Tiago quanto seus leitores
cristãos estariam familiarizados com a interpretação de Jesus de que abrigar o
desejo perverso consistia, na ótica de Deus, na violação dos mandamentos (cf.
Mt 5.21-22). A maioria dos tradutores modernos entende que o versículo 2
apresenta duas sentenças equilibradas, ou seja: “Vocês desejam, mas não
possuem; por isso cometem assassinato. E vocês são invejosos e não conseguem
obter; por isso, lutam e brigam” (NASB). (A. F. Harper. Comentário
Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 181-182).
3.
Cobiçosos e invejosos (v.2). A versão bíblica ARC (Almeida Revista e Corrigida) omite aqui o verbo
"matar" que consta do texto grego: "Vocês cobiçam e nada têm;
matam e sentem inveja" (Nova Almeida Atualizada). Esse homicídio não é
literal; diz respeito ao ódio, que é como homicídio aos olhos de Deus (Mt
5.21,22; 1 Jo 3.15). A cobiça é o desejo excessivo de possuir o que pertence ao
outro, e a inveja é um sentimento de tristeza e pesar pela alegria, felicidade
e sucesso de outra pessoa. O cristão deve se contentar com o que tem (Lc 3.14;
Fp 4.12; Hb 13.5). Cabe aqui ressaltar que esse ensino não é uma apologia à
pobreza e à miséria, pois não é pecado desejar e buscar, de maneira lícita,
tudo o que é útil à vida, desde que os nossos desejos sejam afinados com os de
Deus.
“Cobiçais” No grego é ‘nepithumeo’, desejar, anelar por,
em bom ou em mau sentido. É óbvio que aqui isso deve ser entendido de maneira
prejudicial. Tal palavra era com frequência usada para indicar as paixões
sexuais descontroladas; mas o presente contexto não limita seu sentido a isso.
“Os desejos aqui descritos tornam-se tão fortes, que as pessoas estão
prontas até para matar (versão NTLH), com a finalidade de conseguir aquilo que
querem. A palavra “matar” pode ser interpretada como uma hipérbole para o ódio
e a amargura. Em lugar de reavaliarem os seus desejos, as pessoas descritas por
Tiago recorrem à inveja, a lutas, a disputas, e a coisas piores do que estas.
Mas, apesar de todo o seu egoísmo e antagonismo para conseguirem o que desejam,
elas ainda não podem alcançar estas coisas. Por que? Nós aprendemos (desde
quando tivemos o nosso primeiro triciclo até quando dirigimos o nosso primeiro
automóvel) que os desejos satisfeitos não trazem tanta satisfação quanto
prometem. Algumas vezes, conseguimos realmente aquilo que queríamos, e então
descobrimos que ainda não temos aquilo de que realmente necessitávamos - a
profunda satisfação que somente nos vem quando somos justificados para com
Deus. Se confiarmos somente nos nossos desejos, eles apenas nos levarão às
coisas desta terra, e não às coisas de Deus. Em resumo, a mensagem de Tiago é:
Nada tendes, porque não pedis a Deus. Em outras palavras: “Vocês não têm o que
querem porque não querem a Deus””. (Comentário do Novo Testamento Aplicação
Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682).
4.
Adúlteros e adúlteras (v.4). Tiago continua a linguagem metafórica usada desde o Antigo Testamento
para descrever a apostasia de Israel e sua infidelidade a Javé, seu Deus. A
infidelidade a Deus é em si mesma um adultério espiritual. Tiago especifica que
se trata de um assunto que envolve homens e mulheres. Assim como a intimidade,
o amor, a beleza, o gozo e a reciprocidade que o casamento proporciona fazem
dele o símbolo da união e do relacionamento entre Cristo e a sua Igreja (2 Co
11.2; Ef 5.31-33; Ap 19.7). A antítese segue nessa mesma linha de pensamento,
pois de igual modo a infidelidade de Israel, da Igreja ou de um cristão é
chamada na Bíblia de adultério espiritual, ou prostituição e fornicação espiritual
(Jr 3.8; Ez 16.32; Ap 2.20).
- “A chocante palavra “adúlteros” descreve
claramente a infidelidade espiritual das pessoas e tenciona despertá-las para
que encarem a sua verdadeira condição espiritual. Estes crentes estavam
tentando amar a Deus e ter um romance com o mundo. O fato de Deus expressar,
nos termos mais fortes possíveis, a importância da fidelidade deve nos
inquietar. Os padrões bíblicos de comportamento pessoal, conjugal e espiritual
estão sob constante ataque de erosão. Nós somos constantemente bombardeados
pela mensagem da transigência. Do ponto de vista do mundo, nós devemos ser
flexíveis, tolerantes ao pecado, e complacentes. Mas isto não funciona, porque
a amizade do mundo é inimizade contra Deus. Para os crentes, o mundo e Deus são
dois objetos distintos de afeto, mas são completamente opostos. O mundo é o
sistema do maligno, que está sob o controle de Satanás; ele representa tudo o
que é contrário a Deus. Ter amizade com o mundo, portanto, é adotar os seus
valores e desejos (veja também Rm 8.7,8; 2 Tm 4.10; I Jo 2.15-17). Estes
crentes podem amar verdadeiramente a Deus, mas também são atraídos pelos
benefícios do sistema deste mundo. Eles adoram a Deus, mas podem desejar a
influência, os padrões de vida, a segurança financeira, e talvez um pouco da
liberdade que o mundo oferece. A busca destas coisas só irá minar a
generosidade, os cuidados, e a divisão de recursos que deveriam caracterizar os
cristãos. Qual é, então, o relacionamento adequado de um crente com o mundo?
Alguns usaram declarações bíblicas como esta de Tiago como a base para uma
retirada radical do “mundo”. Mas a retirada não é a solução. Embora seja
verdade que nós somos chamados para estar no mundo mas não pertencer a este
mundo (Tg 17.14), deveríamos amar as pessoas deste mundo o suficiente para lhes
transmitirmos o Evangelho. Para fazermos isto, precisamos nos relacionar com
elas sem nos relacionar com as coisas deste mundo que são contrárias a Deus
(veja 1 Jo 3.15-17).”(Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora
CPAD. Vol. 2. pag. 682-683).
SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO
Para contrapor a ideia de vida egoísta e de pecado,
leve em conta este belíssimo texto doutrinário sobre o ensino de John Wesley:
“[...] Wesley incita os cristãos no caminho da perfeição completa para
empreender obras de misericórdia e de piedade. Ele observa: ‘É por meio da
paciente continuação em fazer o bem, em usar toda a graça que já lhe foi
concedida, que você deve buscar o dom completo de Deus, a completa renovação de
sua alma, a completa libertação do pecado’. Em termos de obras de misericórdia
em particular, os crentes devem servir os pobres com vigor e sacrifício
diligente, ministrando acerca de suas necessidades materiais e espirituais. Na
verdade, em 1748, Wesley escreve que as pessoas engajadas em ministrar aos oprimidos
‘fazem o bem o máximo que podem, até mesmo para o corpo dos homens”. Mas, a
seguir, indicando sua preferência por um ministério global, ele acrescenta:
‘Muito mais ele se regozijará se puder fazer algum bem para a alma de algum
homem’. E dois anos depois, Wesley continua esse tema em seu sermão [...]
(Sobre o Sermão do Monte de nosso Senhor, Décimo Terceiro Discurso) em que
escreve: ‘Além de tudo isso, você é zeloso com as boas obras? Você, quando tem
tempo, faz o bem a todos os homens? Você alimenta o faminto, e veste o nu, e
visita o órfão e viúva em sua aflição? Você visita os que estão doentes? Ajuda
o que está preso? Você acolhe o estrangeiro? Amigo, suba mais alto. [...] Ele
capacita-o a trazer os pecadores das trevas para a luz, do poder de Satanás
para o de Deus’” (COLLINS, Kenneth. Teologia de John Wesley: O Amor Santo e a
Forma da Graça. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, pp.372-73)
III. RESISTINDO
AO INIMIGO
A ideia de Tiago, ao
concluir essa seção da epístola, é a mesma exortação que fez o apóstolo Pedro,
inspirado por Levítico 11.44; 19.2; 2 O.7: "mas, como é santo aquele que
vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto
escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (1 Pe 1.15,16).
1.
Tiago apresenta a receita para resistir ao Inimigo. Ele mostra que o Espírito Santo
está em nós (v.5), o que é confirmado em outras partes do Novo Testamento (1 Co
3.16; 6.19; Ef 2.22). Na verdade, o cristianismo é a única religião do planeta
que tem o Espírito Santo (Jo 14.16,17). Assim, o Espírito Santo em nós não quer
um coração dividido: "É com ciúme que por nós anseia o espírito, que ele
fez habitar em nós?" (v.5, Nova Almeida Atualizada). Essa vantagem nos
permite viver uma vida santa e resistir ao Inimigo. Nisso temos a ajuda de
Deus, que "resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes"
(v.6).
“O Espírito tem “ciúmes” (Tg 4.5). Nessa
passagem, um aspecto muito importante ressaltado por Tiago sobre o nosso
relacionamento com Deus é que o “Espírito, que em nós habita, tem ciúmes” (v.
5). A construção do versículo 5 no original grego não é muito clara, podendo
esse texto significar que o espírito humano tem a tendência natural “de opor-se
a Deus e ao próximo”, o que estaria implícito na expressão traduzida como
“ciúmes”; ou então que o Espírito Santo tem ciúmes de nós, isto é, zelo intenso
por nós. A maioria esmagadora dos comentaristas bíblicos, à luz do que afirmam
o final do versículo 4 e o início do versículo 6, prefere a segunda
interpretação para o versículo 5, que é também a interpretação aceita por mim:
Tiago quer dizer aqui que o Espírito Santo de Deus tem ciúmes de nós. O
Consolador, aquEle que intercede por nós e em nós com gemidos inexprimíveis (Rm
8.26,27) e se entristece frente aos nossos pecados (Ef 4.30), o nosso Ajudador,
que nos guia na caminhada espiritual e no relacionamento com o Pai celestial
através de Cristo (Rm 8.5-11), tem um forte, intenso e amoroso zelo por nós.”
(Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 119-120).
2. A
submissão a Deus. Essa submissão e humildade a Deus é descrita de várias maneiras, como
"resistir ao diabo" (v.7) e se aproximar de Deus; limpar as mãos,
"vós de duplo ânimo" (v.8). O duplo ânimo diz respeito aos crentes
indecisos e divididos em suas decisões entre Deus e o mundo (Tg 1.8). Jesus
disse que ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24). As mãos são
instrumentos das ações e o símbolo de toda a conduta. Para que elas sejam
limpas, é necessário primeiro um coração purificado (Sl 24.4; 1 Pe 1.22).
“O apóstolo explica em detalhes como se dá essa
submissão a Deus, no que ela consiste. Em primeiro lugar, diz ele que é preciso
se aproximar de Deus, isto é, buscá-lo sinceramente: “Chegai-vos a Deus”
(v.8a). A consequência disso é que Deus se chegará a nós (v. 8b) — ou seja,
teremos comunhão com Ele e seremos abençoados pela sua presença em nossas
vidas. “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso
coração” (Jr 29.13). Em segundo lugar, é preciso se arrepender dos pecados e
mudar de atitude: “Limpai as mãos, pecadores” (v.8c). Ter as mãos limpas fala
de chegar-se a Deus com a consciência limpa devido ao arrependimento sincero.
Paulo fala de levantar as mãos em oração diante do Senhor “sem ira nem
contenda” (1 Tm 2.8), purificado. Em terceiro lugar, é preciso dar fim ao
“duplo ânimo” (v.8d), isto é, ao hesitar entre Deus e o mundo, ao coxear entre
a vontade de Deus e as paixões pecaminosas. Em quarto lugar, “purificai o
coração” (v.8e), que significa aqui ter um coração sincero, sem falsidade, sem
maldade. Só os puros de coração verão a Deus (Mt 5.8), isto é, só os sinceros
de coração poderão ter um relacionamento real com Deus. Ao final, Tiago reforça
a necessidade de arrependimento sincero, de quebrantamento verdadeiro perante
Deus: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso
em pranto, e o vosso gozo, em tristeza” (v.9)”. (Alexandre Coelho e Silas
Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora
CPAD. pag. 122-123).
3. Os
lamentos e os resultados. Tiago continua com as suas exortações: sentir as nossas misérias,
lamentar, chorar, substituir o riso pelos lamentos, sentir angústia e nos
humilhar diante de Deus (v.9). Essas exortações resultam em bênçãos, entre
elas, a de que o Diabo fugirá de nós, e o Senhor nos "exaltará" (v.10.
Trata-se de uma vitória completa em Cristo.
- “À medida que Deus se aproxima de nós, devemos
sentir a nossa falta de merecimento. Afinal, estamos obtendo a permissão de nos
aproximarmos do Deus santo e perfeito. Tiago descreveu um longo processo
espiritual nos oito últimos versículos. Ele começou descrevendo as pessoas em
conflito umas com as outras e consigo mesmas. A seguir, ele descreveu a origem
de tais conflitos nos desejos inapropriados, que são motivados, em grande
parte, pela tentativa de permanecer próximas tanto do mundo como de Deus. O
desmascarar de uma vida como esta e a convocação dos crentes à humildade pode
não ser uma mensagem bem recebida. A rendição pode não vir com facilidade.
Desejos arraigados há muito tempo podem reagir com desobediência. O
arrependimento poderá ter que incluir a recordação do quanto nós nos afastamos
do caminho de Deus antes de termos retornado. Estes termos diferentes,
misérias, lamentações, pranto e tristeza captam a luta de uma alma que se
aproxima de Deus. Existe uma morte que está acontecendo. É um chamado ao
arrependimento profundo e sincero. O riso das pessoas (o riso escarnecedor que
se recusou a levar o pecado a sério) e a sua alegria com os prazeres do mundo
precisam ser completamente transformados - em tristeza pelos seus pecados (veja
também Lc 6.25). Até que isto ocorra, não há espaço para o riso da liberdade
verdadeira e a alegria do Senhor. A vida cristã envolve alegria, mas, quando
nós percebemos os nossos pecados, precisamos nos lamentar, para que possamos
nos arrepender. Somente depois da lamentação é que podemos passar para a
alegria na graça que Deus nos dá”. (Comentário do Novo Testamento
Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 684). “Sujeitar-se a Deus,
submeter-se a Ele, ou, como acrescenta Tiago ainda, humilhar-se diante do
Senhor. O resultado dessa atitude é claro: “Humilhai-vos perante o Senhor, e
Ele vos exaltará” (v. 10 — grifo meu). Em suma, Tiago nos ensina nessa bela
passagem de sua epístola que não há vitória sobre as paixões pecaminosas e nem
exaltação espiritual na vida do cristão sem humilhação diante de Deus, sem
submissão total à sua vontade, que se dá através desses quatro passos acima
elencados a partir de seu próprio texto. E mais: vivendo assim, não teremos,
inclusive, conflitos entre nós, porque nossas motivações, desejos e formas de
agir estarão completamente harmonizados com a perfeita vontade do Senhor.”
(Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida
Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 123). “Humilhar-nos perante o Senhor e
admitir a nossa dependência dele significa reconhecer que o nosso valor vem
somente de Deus. É reconhecermos a necessidade desesperada que temos de sua
ajuda e sujeitarmo-nos à sua vontade para a nossa vida. Embora nós não
mereçamos a graça de Deus, Ele nos alcança no seu amor e nos dá valor e
dignidade, apesar dos nossos defeitos humanos. Quando fazemos isto, a promessa
é certa: Ele nos exaltará e nos dará honra. Um dos exemplos bíblicos mais
comoventes desta verdade é encontrado na parábola de Jesus sobre o pai que
perdoa (veja Lc 15.11-32). O filho tinha tomado a sua herança e saído de casa
para ser amigo do mundo. Somente depois que se encontrou falido em todos os
aspectos é que ele se arrependeu e, entristecido, voltou para casa. O filho
confessou ao seu pai que era indigno de ser chamado de filho. Mas o pai o
exaltou e o recebeu de volta à família. O ato de retornar exigiu submissão. As
palavras de arrependimento do filho rebelde exigiram humildade. O resultado
final foi uma grande alegria. A humildade perante Deus será seguida da nossa
exaltação.” (Comentário do Novo
Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 685).
SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ
Para concluir a lição desta semana, sugerimos uma
reflexão com os alunos acerca do “ser cristão”. Ora, ser cristão é submeter-se
inteiramente a Cristo. Mas o que isso significa na prática? Faça essa reflexão
a partir deste texto da espiritualidade clássica pentecostal: “O segredo do
Cristianismo está em ser. Está em ser possuidor da natureza de Jesus Cristo. Em
outras palavras está em ser: Cristo em caráter; Cristo em demonstração; Cristo
em poder de transmissão. Quando o indivíduo se entrega ao Senhor e se torna
filho de Deus, ele passa a ser como um cristo-homem – um cristão. Tudo o que a
pessoa faz e diz dali em diante deve ser a vontade, as palavras e as obras de
Jesus, da mesma maneira como Jesus falou e fez absoluta e completamente a
vontade do Pai” (LAKE, John G. Devocional.
Série: Clássicos do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003,
pp.43-44)
CONCLUSÃO
Tiago relaciona uma
série de exortações que, se praticadas em conjunto, resultarão na completa
resistência ao Inimigo de nossa alma. O que Deus espera de nós é que
sejamos santos como Ele é santo. Resistir ao Inimigo, no contexto de Tiago,
resume-se em que cada um de nós sujeitemos-nos à vontade de Deus e
cheguemos-nos a Ele; e devemos ainda purificar as mãos e limpar o coração. É
essa dependência de Deus que nos leva à vitória em Cristo.
- Tiago abre o capítulo 4 perguntando: “Donde vêm
as guerras e pelejas entre vós?”. Em seguida, responde retoricamente: “Porventura,
não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?”
(v.1). Aqui, o líder da igreja de Jerusalém denuncia o tipo de sabedoria que
estava predominando na igreja: a terrena, animal e diabólica. Por quê? Ora,
entre aqueles crentes havia “guerras e pelejas” e “interesses dos
próprios deleites”, enquanto os menos favorecidos estavam à margem dessas
ambições. Estava nítido que eles não semeavam a paz. Nós possuímos desejos
legítimos à luz da Bíblia, a realização profissional, pessoal e o desejo de uma
melhor qualidade de vida são anseios de todo homem, e as Escrituras não proíbem
isso. Entretanto, o problema existe quando esse anseio torna-se uma obsessão,
um desejo cego, colocando o Senhor nosso Deus à margem da vida para eleger um
ídolo: o sonho pessoal. A partir dos ensinamentos do Senhor Jesus,
desfrutaremos da verdadeira felicidade em Deus. Que venhamos atentar para o
ensinamento desta lição, humilhando-nos na presença de Deus através de Cristo
Jesus. Ao concluirmos o estudo dessa semana veremos que não se pode abrir mão de
Deus para realizarmos os nossos sonhos, pois os dEle devem estar em primeiro
lugar!
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a
tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome
sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16).
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br