SUBSÍDIO I
PRESSUPOSTOS PENTECOSTAIS PARA
A DOUTRINA DA SALVAÇÃO
Caro professor, prezada
professora, neste último trimestre estudaremos a Soteriologia, disciplina que
analisa a doutrina da Salvação em Teologia Sistemática. Essa doutrina é um dos
artigos basilares de nossa fé.
Vivemos um contexto em que o
interesse pela doutrina da Salvação vem crescendo muito no Brasil. Nessa
doutrina, há pontos complexos de entendermos sobre a dinâmica da Salvação e,
que por isso, não podem ser confundidos nem distorcidos. Assim, o momento exige
uma lição que mostre à igreja no Brasil a dinâmica dessa maravilhosa doutrina,
segundo a nossa tradição pentecostal de perspectiva arminiana.
Antes de iniciar a preparação de
sua aula, prezado professor, prezada professora, é importante reconhecer alguns
dos pressupostos importantíssimos que estarão presentes ao longo de todo este
trimestre em nossa revista, e que também se encontram de acordo com a nossa
Declaração de Fé de tradição pentecostal-arminiana:
1. Eleição Condicional
De acordo com a nossa Declaração de Fé, a
predestinação genuinamente bíblica está condicionada, em primeiro lugar, (1) à
fé em Cristo; e relacionada (2) à presciência de Deus. Logo, os que pela graça
creem em Jesus e perseveram na fé, pela presciência de Deus, são os verdadeiros
eleitos. Mas os que rejeitam essa oferta maravilhosa serão condenados à
eternidade de sofrimento (Jo 3.36; 1 Pe 1.2 ).
2. Expiação Universal
Jesus Cristo, o nosso Senhor,
morreu em prol de todo o ser humano, isto é, por qualquer pessoa caída e
deformada pelo pecado. Entretanto, só os que creem serão salvos. Nesse sentido
a nossa Declaração de Fé afirma categoricamente o seguinte: “Um dia, todos os
seres humanos comparecerão diante do Senhor e Criador de todas as coisas. Deus,
contudo, não deseja a perdição de ninguém: ‘que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da
verdade’ (1 Tm 2.4). [...] O Evangelho contempla a todos e a
ninguém exclui: ‘Porque a graça de Deus se há
manifestado, trazendo salvação a todos os homens’ (Tt 2.11). Por
conseguinte, a salvação está disponível a todos os que creem. Sim, todos nós,
sem exceção, podemos ser salvos através dos méritos de Jesus Cristo, pois todos
nós fomos criados à imagem de Deus” (CPAD, p.110).
3. Fé Salvadora
O ser humano não tem a
capacidade de crer, de por si mesmo gerar fé. Por isso ele precisa da graça de
Deus para crer: “É por meio da graça que Deus capacita o ser humano para que
ele responda com fé ao chamado do evangelho” (Declaração de Fé, CPAD, p.113).
4. Graça Resistível
Infelizmente, a graça que
habilita para a salvação pode ser resistida e o ser humano não ser salvo. Não
são poucos os que resistem aos apelos do Espírito Santo (At 7.51; Hb 10.29,30).
Portanto, “...os seres humanos, influenciados pela graça que habilita a livre
escolha, são livres para escolher: ‘Se
alguém quiser fazer a vontade de dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é
de Deus ou se eu falo de mim mesmo’” (Jo 7.17).
5. Quanto à perseverança dos
santos
“Entendemos à luz das Sagradas
Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo nascimento, o crente
tem a responsabilidade de zelar pela manutenção da salvação a ele oferecida
gratuitamente: ‘Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau
e infiel, para se apartar do Deus vivo’ (Hb 3.12). Não há dúvidas quanto à
possibilidade do salvo perder a salvação, seja temporariamente ou eternamente”
– “Mas era justo alegrarmo-nos e
regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido
e foi achado” (Lc 15.32). (Declaração de Fé, CPAD, p. 114)
Boa aula!
Bom trimestre!
Marcelo Oliveira de Oliveira
Redator do Setor de Educação
Cristão (CPAD)
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Neste trimestre, estudaremos a Soteriologia –
doutrina da salvação, com enfoque na pessoa de Cristo, sendo Este: o Caminho, a
Verdade e a Vida (Jo. 14.6). Na aula de hoje, trataremos a respeito da promessa
da salvação, o denominado, protoevangelho, que se encontra em Gn. 3.15.
Inicialmente definiremos salvação, e na segunda parte da lição, nos voltaremos
para o texto bíblia que narra a queda de Adão e Eva, bem como a providência de
Deus para a salvação da humanidade.
1. SALVAÇÃO, DEFININDO O CONCEITO
No Novo Testamento, o substantivo soteria está
estreitamente relacionado à vinda do Messias. Jesus foi convidado a ir à casa
de um cobrador de impostos corrupto, cujo nome era Zaqueu. Este, depois de
ouvir a mensagem do Mestre, arrependeu-se dos seus pecados. Como resultado, a
soteria de Deus entrou naquela casa (Lc. 19.9). A mensagem da soteria encontra
maior destaque nos escritos neotestamentários de Paulo e do autor da Epístola
aos Hebreus. Ao escrever aos Efésios, o Apóstolo dos Gentios afirma que os crentes
daquela cidade, após terem ouvido a palavra da verdade, foram alcançados pela
soteria (Ef. 1.13; 2.5,8). Em sua Epístola aos Filipenses, instrui os crentes a
desenvolveram a salvação, com temor e tremor (Fp. 2.12). Isso quer dizer que
aqueles que foram alcançados pela soteria de Deus, não por meio das obras, mas
pela fé (Ef. 2.8,9), devem viver como pessoas salvas (Hb. 6.9). Mas a salvação
tanto tem um aspecto passado quanto futuro, está na dimensão do “já” e do
“ainda não”. Ela está fundamentada na salvação providenciada por Cristo, na
cruz do calvário (Lc. 2.30; 19.9; I Ts. 5.9; II Tm. 2.10; 3.15; Hb. 2.3; 9.28;
I Pe. 1.10). A soteria ainda não se completou, pois aguardamos ainda a
glorificação, da qual estamos cada vez mais próximos (I Ts. 5.9; Hb. 1.14). A
soteria providenciada por Deus é motivo de júbilo e celebração. O livro de
Apocalipse está repleto de cânticos que glorificam o Senhor por Sua salvação
(Ap. 7.10; 12.10; 19.1). Mas a ekklesia não deve apenas celebrar a salvação de
Deus, é sua responsabilidade proclamá-la ao mundo (At. 13.47; 28.28). Não
podemos esquecer que a soteria de Deus é o próprio Cristo, pois Ele é o Yeshua,
o Salvador, Aquele que morreu na cruz do calvário, e que ressuscitou ao
terceiro dia, para que todo aquele que nEle crer, tenha a vida eterna (Jo.
3.16).
2. A QUEDA
DE ADÃO E EVA: causas e consequências
Satanás é real, não é um conceito abstrato, nem
mesmo uma invenção dos religiosos. Ele é comparado a uma serpente em II Co.
11.3, e assim se apresenta no Jardim do Eden, através do disfarce de uma
serpente. Ele é um imitador, não por acaso Paulo destaca que se faz passar por
anjo de luz (II Co. 1.31). Precisamos estar atentos aos ardis do Inimigo, pois
ainda hoje se apresenta como imitador, e se disfarça de modo a não percebermos
suas armadilhas. Seus seguidores tentam apresentar uma falta justiça, diferente
daquela providenciada por Deus (Rm. 9.30), e tem seus falsos mestres, que
ensinam doutrinas contrárias à palavra de Deus (II Co. 11.13-16). Ele costuma
questionar a Escritura, ou então usá-la em benefício próprio, subvertendo seus
princípios (Gn. 2.15-17; II Co. 11.3). Deus estabeleceu uma restrição para o
primeiro casal no Eden, esses poderiam comer livremente de qualquer fruto, mas
não daquele da arvora proibida. Satanás interpreta a Palavra de Deus de maneira
equivocada, ao acrescentar que “nem tocareis nele”, a própria Eva também
inseriu elementos na mensagem que não foram ditas pelo Senhor, resultando em
desconfiança naquilo que o Senhor falou. Devemos ter cuidado para que,
influenciados por Satanás, não venhamos interpretar equivocadamente as
Escrituras. Ele é o pai da mentira (Jo. 8.44), não podemos fazer concessão
quando a Palavra de Deus, pois é nosso pavês e escudo (Sl. 91.4; Ef. 5.16). O
resultado de se distanciar da orientação divina é sempre trágico, a
desobediência de Adão e Eva resultaram na Queda da humanidade (Rm. 5.12-21; I
Co. 15.22). Mas também somos responsáveis pelos nossos pecados, como Adão e Eva
também podemos nos deixar seduzir pela concupiscência (Gn. 3.6; I Jo. 2.16). O
desejo de ser como Deus tem conduzido a humanidade à destruição, isso pode ser
percebido na própria vergonha pela qual Adão e Eva tiveram, quando perceberam
que estavam despidos (Gn. 2.25; Rm. 2.12-16). O pecado traz consequências, e uma
delas certamente é o medo, a culpa que distancia o ser humano de Deus (Gn.
3.10). Na tentativa de fugir do pecado, ou mesmo da sua realidade, como fizeram
Adão e Eva, a humanidade busca subterfúgios, tentado vestir-se pela autojustiça
(Gn. 3.21). Ao invés de reconhecerem o pecado, eles transferiram a culpa,
deixando de assumir a necessidade de salvação. O resultado foi o castigo
divino, para a mulher que passaria a dar à luz com dores (Gn. 3.16) e o homem
que sofria diariamente com a labuta do seu trabalho (Gn. 3.17-19).
3. PROTOEVANGELHO: a promessa da salvação
Mas nem tudo está perdido, pois a uma promessa de
salvação para a humanidade, um animal foi morto, para que Adão e Eva fossem
vestidos, essa ação divina antecipava a morte do Cordeiro de Deus, desde a
fundação do mundo (Ap. 13.8). Na cruz do calvário Jesus morreu pelos pecadores
(II Co. 5.21). O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a
vida eterna em Cristo Jesus (Rm. 3.12; 6.23). Essa mensagem foi antecipada pelo
próprio Deus, o chamado protoevangelho, que se encontra em Gn. 3.15. Deus
anunciou no Edén: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente
e a sua semente; esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Na cruz
do calvário Jesus pisou na cabeça da serpente, de modo que hoje temos pleno
acesso ao trono da graça de Deus. Em Gn. 3.14,15, aprendemos que o salvador
prometido era a Semente da mulher- Deus que se fez homem (Jo. 1.1,14); essa
semente feriu a cabeça da serpente – conquistou o pecado, ao levar sobre Si a
nossa culpa; e a serpente feriu o calcanhar do Salvador, portanto, Deus
experimentou a morte eterna em nosso lugar. Por causa dEle, agora temos
salvação do poder do pecado e do poder das trevas (Cl. 1.13), experimentamos a
redenção (I Pe. 1.18,19), vivemos segundo o Espírito (Rm. 8.1), passamos pelo
novo nascimento (Jo. 3.5) e participaremos da manifestação de Cristo em glória
(Cl. 3.4). Por esse motivo, podemos afirmar, já no tempo presente, que fomos
salvas na justificação e regeneração (passado), estamos sendo salvos
(santificação) e seremos salvos (glorificação). Jesus é a garantia que temos de
que nEle as promessas de Deus serão cumpridas em nós.
CONCLUSÃO
A promessa da salvação se cumpriu em Cristo, ao se
entregar pelos nossos pecados na cruz do calvário. Isso revela a gravidade do
pecado, não apenas o de Adão, mas também os nossos. Ele conduz a humanidade
para a morte, o distanciamento eterno do Criador, ao isolamento (Rm. 3.23).
Todavia, a salvação prometida no Edén foi concretizada no calvário (Jo. 3.16),
de modo que podemos ter a convicção, pela graça por meio da fé (Ef. 2.8,9), que
desfrutamos da salvação e vida eterna providenciada por Deus.
Prof. Ev. José
Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog
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COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
A salvação é um
processo imediato (conversão) e contínuo na vida do crente (santificação). É
necessário que o nascido de novo conheça todos os benefícios que essa dádiva,
por intermédio da morte de Cristo, outorgou-lhe na cruz. A vida plena, a paz, a
alegria, a misericórdia, a graça e a bondade que o crente desfruta provêm do
milagre da salvação. [Comentário: A
salvação é a maior de todas as bênçãos espirituais que o ser humano pode
receber de Deus. Apesar disso, muitas pessoas não sabem o que ela é. Isso se
deve, em parte, ao caráter simplório e superficial de boa parte da educação
cristã ministrada em algumas denominações evangélicas e, em parte, pela ampla
divulgação de algumas doutrinas massificantes que não chegam à essência da
questão1. É importante responder uma questão: Somos salvos de
quê? Na doutrina Cristã da salvação, somos salvos da “ira”; quer dizer, do
julgamento de Deus sobre o pecado (Rm 5.9; 1Ts 5.9). Nosso pecado nos separou
de Deus, e a consequência do pecado é morte (Rm 6.23). Salvação bíblica se
refere à libertação da consequência do pecado e envolve, portanto, remoção do
pecado2. Uma definição da doutrina Cristã da salvação seria:
“A libertação espiritual e eterna que Deus concede imediatamente a aqueles que
aceitam Suas condições de arrependimento e fé no Senhor Jesus”. Salvação só é
possível através de Jesus Cristo (Jo 14.6; At 4.12), e depende de Deus para a
sua provisão, garantia e segurança3. Salvação não significa
apenas livramento da condenação do Inferno. Ela abarca todos os atos e
processos redentores e transformadores da parte de Deus para com o homem e o
mundo através de Jesus, o Redentor, nesta vida e na outra.] Dito isto,
vamos pensar maduramente a fé cristã?
3. IBDEM.
I. O
CONCEITO BÍBLICO DE SALVAÇÃO
1. O conceito. O significado bíblico de salvação compreende cura,
redenção, remédio, completude, inteireza, integralidade, saúde física, mental e
emocional. No sentido espiritual, salvação quer dizer que Cristo fez a expiação
pelo pecador, ocupando o lugar dele na cruz (passado), regenerando e
santificando sua vida (presente), a fim de um dia "glorificar" o
corpo dele plenamente (futuro). Assim, a salvação só é possível por causa da
obra de Cristo consumada na cruz (Hb 2.10). No sentido prático, salvação
significa livramento da condenação eterna, apaziguamento e felicidade na vida
de quem aceita Jesus como Senhor e Salvador. Essa pessoa é nova criatura e, por
isso, se esforça para compartilhar e implantar as virtudes do Reino de Deus no
mundo. [Comentário: Salvação é a libertação do perigo ou sofrimento.
Salvar é libertar ou proteger. A palavra carrega a ideia de vitória, saúde, ou
preservação. Às vezes, a Bíblia usa palavras como salvo ou salvação para se
referir à libertação temporária e física, tal como a libertação de Paulo da
prisão (Fp 1.19)4. Não somos filhos de Deus por natureza.
Devemos receber a Cristo a fim de nos tornarmos filhos de Deus. Somente Jesus
pode limpar os nossos pecados e mudar nossa natureza; 1Pd 2.24: “Carregando
ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados.” Jesus tomou
nosso lugar e derramou seu sangue a fim de nos lavar os pecados. Quantia alguma
de “boas obras” pode lavar um único pecado ou trocar nossa natureza. Salvação
ocorre quando clamamos a Jesus, crendo, para nos salvar. Então ele entra em
nossa vida e nos tornamos filhos de Deus com uma nova natureza. Embora a
salvação não seja pelas obras, a salvação verdadeira sempre produz mudança de
vida. Cristo entra mediante convite pessoal, como Senhor e Salvador para mudar
nossa vida e viver sua vida por intermédio de nós5. Trabalhar
pela salvação mostra incredulidade na suficiência de Jesus Cristo para nos
salvar. Entretanto, a salvação verdadeira e a verdadeira fé, sempre produzem
boas obras! Tiago 2:20: “Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a
fé sem as obras é inoperante?” Macieiras produzem maçãs. Os cristãos
verdadeiros produzem boas obras. As maçãs são produtos da árvore e provam que é
uma macieira. Mas já era macieira antes de produzir maçãs. Da mesma forma, as
boas obras nunca produzem um cristão; meramente provam que essa pessoa é
cristã. De acordo com 2 Coríntios 5.17: “E assim, se alguém está em Cristo,
é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.”
Devemos ter a salvação a fim de demonstrá-la, assim como devemos ter o carro
antes de podermos demonstrá-lo!6]
6. IBDEM.
2. Salvação no Antigo
Testamento. No Antigo
Testamento, a salvação está relacionada ao escape das mãos dos inimigos, à
libertação da escravidão e ao estabelecimento de qualidades morais e
espirituais para a vida de quem tem Deus como seu Senhor (Is 33.22-24). Nessa
perspectiva, diante das calamidades naturais (Êx 15.25), da perseguição (Jz
15.18; 2 Sm 22.3), da escravidão, das doenças e da morte, o Altíssimo prometeu
salvação ao seu povo no sentido de libertá-lo (Êx 14.13; 15.2,13), livrá-lo e
curá-lo (Is 38.16; 58.8) para viver uma vida longe das injustiças. Contudo, o
ápice da salvação no Antigo Testamento (AT) se deu com a profecia de Isaías
sobre a vida e a morte do "Servo Sofredor" (Is 53). O Antigo
Testamento aponta os sacrifícios de animais para o sacrifício substitutivo de
Jesus Cristo na cruz do Calvário (Hb 10.11,12); um evento vaticinado por vários
profetas daquela época. Era o oferecimento de um inocente no lugar de um
culpado; uma morte não merecida, mas aceita diante de Deus para remir os nossos
pecados (Hb 9.22). [Comentário: O consenso prevalente entre sábios religiosos parece
ser que há uma divisão intransponível entre Judaísmo e Cristianismo. Por certo
há diferenças definidas na prática dos dois sistemas religiosos, mas elas têm
um número significativo de características comuns. Os cristãos adoram o Messias
que era um judeu praticante durante Sua vida. Todos os autores do Novo
Testamento, com uma exceção, eram judeus praticantes. O Antigo Testamento, que
os cristãos reverenciam como a Palavra de Deus escriturada, é um escrito distintamente
judeu. Se este é o caso e Deus, Jeová, nunca muda, então o plano de salvação,
restabelecendo a amizade entre pessoas pecadoras e Deus, deveria ser o mesmo.
Este plano de salvação foi formulado mesmo antes da criação do universo
material (1Pd 1.20. “O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda
antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de
vós;”). Enquanto a manifestação não foi dada àqueles do tempo do Antigo
Testamento, o princípio, significado e eficácia do plano de salvação foram
claramente conhecidos. Como Paulo escreveu em 1Coríntios 10.11 “Ora, tudo
isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem
já são chegados os fins dos séculos.” Enquanto os exemplos mencionados são
manifestações da ira de Deus sobre Israel quando eles desobedeceram ou se
perderam de Deus, o remédio, um sacrifício de sangue, foi experimentado no
altar (1Co 10.18). Claro que no Antigo Testamento só uma pessoa, o alto
sacerdote, tinha permissão de acesso à Arca da Aliança e então apenas uma vez
ao ano, durante o Yom Kippur (o Dia do Perdão). Isto levaria alguém a acreditar
que aqueles fora da classe sacerdotal não entenderiam completamente o que
estaria ocorrendo durante este sacrifício. Porém, está razoavelmente claro
pelas Escrituras do Antigo Testamento que bastante foi entendido sobre o
caráter e a natureza de Deus, para conhecer Sua atitude sobre o pecado e os
requisitos para remediar a separação que o pecado impôs entre o pecador e Deus.
Mesmo antes do estabelecimento da nação israelense, a necessidade do sacrifício
de sangue foi entendida. A oferta de Abel das “primícias” do seu rebanho atende
a essa estipulação. Isto está claramente implicado, se não especificamente
afirmado, no Novo Testamento. Em João 5.39. lemos: “Examinais as Escrituras,
porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;”
O testemunho era mais que somente a vinda do Messias. Ela incluía Sua morte
sacrificial. Em Lucas 24.27. se afirma: “E, começando por Moisés, e por
todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.”
Já que a afirmativa inclui todas as escrituras, ela também deve incluir o
sacrifício do Cordeiro de Deus. Novamente Lucas afirma em Atos 17.11.
referindo-se aos crentes Bereanos: “Ora, estes foram mais nobres do que os
que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando
cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” Para Paulo, as
“coisas” sempre incluíam a morte, sepultamento e ressurreição do Messias7.]
7. Leia mais
em: http://solascriptura-tt.org/SoteriologiaESantificacao/SalvacaoNoVelhoTestamento-JCSofield.htm
3. Salvação em o Novo
Testamento. A salvação não é
alcançada por mérito humano (Tt 2.11), pois é oferecida por Deus ao que crê
pela graça (Ef 2.8,9). Nas suas epístolas, o apóstolo Paulo é um dos que mais
esclarece os conceitos de salvação em o Novo Testamento (NT), mostrando que
essa dádiva não ocorre por intermédio da Lei, nem por meio do esforço humano,
mas única e exclusivamente pela graça divina (Gl 2.16). Pela fé, cabe ao homem
confiar em Cristo a fim de que seja redimido e justificado por meio de sua
crucificação, bem como permitir que seja santificado até o fim, tendo tal
esperança por meio de sua ressurreição (Rm 4.25). Ainda que o pecador não mereça,
por intermédio do Filho de Deus, o Pai o justifica, o perdoa, o reconcilia
consigo (Rm 5.11), o adota em sua família (Gl 4.5), o sela com o Espírito Santo
da promessa (Ef 1.13) e faz dele uma nova criatura (2 Co 5.17). Assim, o
Espírito Santo capacita o crente a viver em santidade, mortificando a força do
pecado, assemelhando-o com Cristo, a fim de que o nascido de novo espere, com
confiança, pela salvação plena e gloriosa (Fp 3.21). [Comentário: Salvação
é o resultado da redenção efetuada por Jesus. Redenção foi o meio que Deus
proveu para livrar o homem de seus pecados. Salvação é o usufruto desse
livramento. No sentido comum e limitado, Salvação significa a obra que Deus
realiza instantaneamente no pecador que a Ele se entrega, perdoando-o e
regenerando-o. Porém, a Salvação tem sentido e alcance muito mais vasto. Assim
considerada, significa o pleno livramento da presença do pecado e suas
conseqüências, o que somente ocorrerá na glória celestial. Nesse sentido, a
Salvação alcança também outras esferas além da humana (Cl 1.20)8.
Quando João 19.30 diz: “está consumado”, que é a expressão grega tételestai,
ele quer dizer quer tudo está pago. Isto representa a salvação para o cristão.
Tudo foi comprado no calvário. Abrange cada fase de nossas necessidades e dura
de eternidade a eternidade. Inclui a libertação do pecado no presente e a
apresentação contra as invasões do pecado no futuro (Jd 1,24-25; Tt 2.11-13).
Então, vejamos em detalhes suas fases: salvação: arrependimento, fé, conversão,
regeneração, justificação, adoção e santificação9.
Regeneração ou novo nascimento. O sentido etimológico da palavra regeneração
vem do vocábulo grego paliggenesia e significa novo nascimento ou nascer de
novo. Refere-se a uma nova criação. Regeneração é uma mudança sobrenatural e
instantânea operada pelo Espírito Santo na natureza da pessoa que recebe Jesus
Cristo como Salvador. O apóstolo João descreve a regeneração como novo
nascimento, Jo 3: 3-8. Jesus fala que é como passar da morte para a vida, Jo 5:
24. Já o apóstolo Paulo chama de nova criatura, 2Co 5: 17; Gl 6: 15.
Regeneração não é uma reforma no ser humano. Essa reforma pertence ao plano
humano, a regeneração, ao divino. A reforma é algo ligado ao exterior; já a
regeneração é a mudança interior, que vem de dentro. A reforma afeta a conduta,
já a regeneração modifica o caráter, Tt 3: 5. Justificação. A palavra
justificação vem do verbo grego dikaioo e significa declarar que uma pessoa é
justa, tornar justo. Já o substantivo dikaiósis significa justificação, que é o
ato da graça divina pelo qual Deus declara justa a pessoa que põe sua fé em
Jesus Cristo como seu salvador. Podemos ilustrar isso com um criminoso que pode
até ser perdoado pelo governo e deixa a prisão, porém leva a culpa consigo em
sua consciência, mesmo já em liberdade. Nesse caso, ele foi perdoado, mas não
justificado, visto que era culpado do crime pelo qual o levou a prisão. Mas, no
caso da pessoa justificada, ela é isentada, não porque não mereça punição, e
não pelo fato de já não mais carregar a lembrança de sua culpa, mas porque as
exigências da lei divina foram satisfeitas. Outra pessoa tomou o lugar dele e
padeceu a execução destinada a ele. A lei não tem mais o que alegar contra ele.
Na justificação, Jesus literalmente assumiu as nossas dívidas e pagou por nós:
“Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso senhor Jesus
Cristo”, Rm 5: 1; “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em
Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito”, Rm 8: 1;
“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de
alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na
cruz”, Cl 2: 14. Adoção de Filho. Adoção é o ato da graça de Deus que toma como
filhos aqueles que aceitaram a Jesus Cristo, concedendo-lhes os direitos e
privilégios de Jesus. A regeneração é uma mudança de nossa natureza. A
justificação é uma mudança de nossa situação diante de Deus. A adoção é uma
mudança de nossa ordem e posição de mera criatura, para Filho: “Ele nos tirou
da potestade das trevas e nos transportou para o Reino do Filho do seu amor”,
Cl 1: 13. João 1: 12-13 afirma: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o
poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os
quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus”. Todo ser humano pode fazer parte da família divina através de
Jesus Cristo. É fundamental aceitá-lo como único e suficiente Salvador e Senhor
de sua vida. Aqueles que já tomaram essa decisão filhos de Deus10.]
10. Jornal Aleluia de
julho de 2007.
SUBSÍDIO LEXICOGRÁFICO
“Vários
termos que designam a salvação ocorrem frequentemente ao longo da Bíblia. No
Antigo Testamento, a raiz mais importante em hebraico é yasha, que
significa liberdade daquilo que prende ou restringe. Portanto, o verbo significa
soltar, liberar, dar comprimento e largura a algo ou a alguém. Os vários substantivos
derivados desta raiz significam tanto o ato de libertar quanto o de resgatar (1
Sm 11.9), além de transmitir o estado resultante de segurança, bemestar, prosperidade
e de vitória sobre os adversários (2 Sm 23.10,12). O particípio deste verbo é a
palavra traduzida como ‘Salvador’, moshia, da qual vem o nome Josué, e
sua forma grega, Jesus; ambas significam ‘Yah(weh) salva.
[...]
No cristianismo, o verbo passou a ser utilizado com o significado de salvar uma
pessoa da condenação eterna, e conduzi- la à vida eterna (Rm 5.9). No texto de
2 Timóteo 4.18 este termo transmite a ideia de levar alguém com segurança ao
reino celestial de Cristo. No Novo Testamento soteria só é encontrado em
conexão com Jesus Cristo como Salvador, e não em qualquer sentido físico ou
temporal. A salvação traz a justiça de Deus para o homem, quando este cumpre a condição
de ter fé em Cristo (Rm 1.16,17; 1 Co 1.12)” (Dicionário Bíblico Wycliffe.
1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 1744).
II. A IMPORTÂNCIA
DA DOUTRINA DA SALVAÇÃO
1. A grandeza da salvação. Embora haja, na vida do crente, um momento de conversão, de
ruptura com a velha vida e de nascimento para a nova vida em Cristo, é
necessário ter o desejo de conhecer mais a verdade de Deus (1Tm 2.4). Nesse
sentido, deve-se tomar o capacete da salvação (Ef 6.17), ou seja, proteger a
mente com as verdades salvíficas, a fim de estarmos livres das investidas de
Satanás - que busca nos colocar dúvidas - e assim compreendermos os conceitos
fundamentais dessa gloriosa doutrina, tais como: propiciação, expiação, adoção,
regeneração, santificação, perdão. [Comentário: Em Efésios 6, quando o apóstolo discorre sobre a
armadura de combate do soldado cristão, fala do capacete da salvação (v17). O
capacete cobria totalmente a cabeça, protegendo-a. Isso fala da plenitude do
conhecimento e da experiência da salvação. Este conhecimento advém do
escrutínio sistemático das Escrituras, exposição do crente à ministração das
doutrinas bíblicas constantemente. Assim, compreenderemos o que Deus fez por
nós: “Salvação é o resultado da redenção efetuada por Jesus. Redenção foi o
meio que Deus proveu para livrar o homem de seus pecados. Salvação é o usufruto
desse livramento. No sentido comum e limitado, Salvação significa a obra que
Deus realiza instantaneamente no pecador que a Ele se entrega, perdoando-o e
regenerando-o. Porém, a Salvação tem sentido e alcance muito mais vasto. Assim
considerada, significa o pleno livramento da presença do pecado e suas
consequências, o que somente ocorrerá na glória celestial. Nesse sentido, a
Salvação alcança também outras esferas além da humana (Cl 1.20)”11.]
2. Para compreender o que Jesus
fez. A salvação abrange todas as
dimensões da vida, por isso, embora tão simples de ser vivenciada - pois para
isso basta aceitarmos a Cristo (Rm 10.10) - muitas vezes seu processo é lento e
requer compreensões maiores. É o que se denomina "aperfeiçoamento dos
santos". Ora, embora a salvação seja um processo imediato alcançado por
meio do sacrifício de Cristo, esse aperfeiçoamento se dá por meio da
assimilação e da vivência constante na dependência de Deus em todas as áreas da
vida. Esse processo chama-se "santificação". [Comentário: No passado –
justificação: É a salvação da condenação do pecado. O crente foi salvo da
condenação do pecado. A Bíblia descreve este fato como ato passado (Rm 5.1 e
1Co 6.11). Justificação é o que Deus fez por nós. O crente foi justificado uma
só vez. Daí em diante o que ocorrerá é a purificação (1Jo 1.9 e Jo 13.10) No
presente – santificação: É a salvação do domínio e influência do pecado.
Santificação bíblica significa basicamente separação para uso e posse de Deus.
Uma boa definição é a de Paulo em Atos 27.23: “…do Senhor, de quem sou e a
quem sirvo”. Santificação não é apenas a pessoa pertencer a Deus, mas
também servi-lo. Se o leitor é um santo de Deus, certamente está servindo a
Deus. Há muita santificação por aí que pode ser tudo, menos bíblica. A
santificação posicional, deve tornar-se experimental no viver diário do crente.
A santificação é primeiramente interna, isto é, pureza interior, purificação do
pecado, refletindo isso em nosso exterior, traduzido em separação do pecado e
dedicação a Deus. É um termo ligado ao culto a Deus e consagração ao seu
serviço, conforme se vê no livro de Levítico, através de pessoas e coisas,
sacerdotes, templo, objetos etc. Quem pensa ser santo deve ser separado do mal
e dedicado a Deus para seu uso (2Tm 2.21). A santificação, como aca¬bamos de
ver, tem um lado posicional e outro prático: um santo viver. A justiça é
comparada a um vestido (Jó 29.14 e Is 59.17). Mas o corpo, que recebe esse
vestido, como deve estar? É razoável um vestido limpo em corpo sujo? A
santificação é o que Deus faz em nós. Nesse sentido, a salvação é progressiva.
Uma criança nova é perfeita, mas não é adulta. Uma frutinha é também perfeita
ao formar-se, mas não é madura (Ef 4.13). Tendo sido justificado, o crente
progride e prossegue para a perfeição, de que em seguida nos ocuparemos. Portanto,
ao estudarmos a santificação precisamos vê-la quanto à posição do crente em
Jesus Cristo, e quanto ao estado do crente em si mesmo12.]
3. Para se apropriar dos
benefícios da salvação. Como a salvação
pode ser negligenciada (Hb 2.3), devemos nos esforçar para conhecer e se
apropriar de todos os seus benefícios, dentre os quais destacamos: o livramento
da condenação do inferno, a libertação do poder do pecado e do poder das trevas
(Cl 1.13), o experimentar da redenção em Cristo (1 Pe 1.18,19), a vida segundo
o Espírito (Rm 8.1), o novo nascimento (Jo 3.5) e a participação da
manifestação de Cristo em glória (Cl 3.4). [Comentário: O
Pr Elienai Cabral elenca: Paz com Deus (5.1). Acesso à graça, pela fé (5.2).
Esperança da glória de Deus (5.2). Alegria nas tribulações (5.3-5). O amor
divino derramado em nós (5.5b). O amor de Deus demonstrado a nós através da
morte de seu Filho (5.6-11)13. O primeiro benefício da
salvação é a paz com Deus. O salvo passa a ter paz com Deus e usufruir dessa
paz (Rm 5.1); É declarado destituído da culpa de Adão (Rm 8.1,33,34); É
ressuscitado espiritualmente, essa ressurreição é para um novo recomeço (Cl
2.12-14;3.1); É Vivificado (Ef 2.1-3); É Reconciliado com Deus (Ef 2.16;
2Co.5.19); É Adotado como filho (Jo 1.12; Rm 8.16); Se torna participante da
natureza divina, santidade e justiça (2Pe 1.4b); Recebe a veste de um novo
homem (Ef 4.22,24; 2Co 5.17; Ap 22.14); O homem saí do estado de ignorância e
cegueira espiritual (Jo 8.32,36); Passa a ser membro da família divina (Ef
2.19); Herdeiro de Deus por Jesus Cristo (Rm 8.17); Passa a ser Cidadão dos
céus (Hb 13.14; Fp 3.20); Tem agora a mente renovada (Ef 4.23; Rm 12.2; Cl
3.2); Seu nome é arrolado no rolo dos que hão de morar no céu de Deus (Lc
10.20); É Chamado para ser um embaixador, representante legal do reino dos céus
onde quer que esteja (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16). As bênçãos subseqüentes à salvação
é algo sobrenatural e fazem parte exclusivamente de quem aceita Cristo como
Salvador, foi Ele que conquistou tudo isso para o seu povo, não foi homem e
muito menos as boas obras, foi exclusivamente pelo beneplácito da Sua
benevolência. Se você não está vivendo estas bênçãos percorra o caminho inverso
e verifique onde você as perdeu e conquiste-as novamente; Não façamos como Esaú
que trocou os bens espirituais pelos manjares que para nada servem se não para
o corpo físico.]
13. CABRAL, Elienai.
Romanos: O Evangelho da Justiça de DEUS. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005,
p.50.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“A
salvação baseia-se na morte de Cristo para a remissão dos pecados de acordo com
os justos requisitos de um Deus santo e abençoador (Rm 3.21-26). As bênçãos da
salvação incluem, basicamente, a redenção, a reconciliação, e a propiciação. A
redenção significa a completa libertação através do pagamento de um resgate (2
Pe 2.1; Gl 3.13). A reconciliação significa que, por causa da morte de Cristo, o
relacionamento humano com Deus foi modificado de um estado de inimizade passando
a um estado de comunhão (Rm 5.10). A propiciação significa que a ira de Deus
foi retirada através da oferta de Cristo (Rm 3.25).
Quando
uma pessoa crê no Senhor Jesus Cristo, ela é salva (At 16.31), e assim já está
justificada, redimida, reconciliada e limpa (Jo 13.10; 1 Co 6.11). Além disso,
a salvação é também progressiva (1 Co 1.18) e o homem precisa da obra
santificadora do Espírito Santo no aperfeiçoamento de sua salvação (Rm 8.13).
Além disso, a salvação em sua plenitude, deverá ser realizada no futuro, quando
Cristo voltar (Hb 9.28)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. 1.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2009, p. 1744).
III. A
SALVAÇÃO PROMETIDA NO ÉDEN
1. O pecado humano. A partir do momento em que Adão e Eva pecaram, a raça
humana passou a expressar e a vivenciar a maldade (Gn 3.6,7 cf. 4.8-26).
Enquanto vivia o período da inocência, o primeiro casal relacionava-se
plenamente entre si e com Deus (Gn 2.23-25). Mas a partir do advento do pecado,
o casal passaria a enfrentar conflitos entre si e com o Criador, passando a
encobrir a maldade do seu coração. A obra de Cristo, porém, realizada no
Calvário não nos permite viver hipocritamente, mas em verdade e sinceridade. Em
Jesus, a maldade do coração é substituída pela capacidade de amar, realizar
boas obras, pela fé, manifestar a bondade de Deus e cuidar do próximo. Esses
atos são consequências da salvação (Ef 2.10). [Comentário: O pecado de Adão trouxe morte (Gn 2.15-31; Rm 6.23;
1Co 15.22); Inimizade com Deus (Rm 5.10); Separação da comunhão com Deus (Gn
3.22-24;Is 59.2); o pecado de Adão ainda colocou o homem sob a condição de
Filhos da desobediência (Ef 2.2b) e Filhos da ira (Ef 2.3b; Jo 3.36; 12.47,48).
“O pecado teve seu começo com Lúcifer, a “estrela brilhante, o filho da manhã”,
o mais belo e poderoso dos anjos. Não satisfeito de ser tudo isto, ele desejou
ser o Deus altíssimo e esta foi sua queda e o começo do pecado (Isaías
14:12-15). Renomeado Satanás, ele trouxe o pecado à raça humana no Jardim do
Éden, onde ele tentou Adão e Eva com a mesma fascinação: “sereis como Deus”.
Gênesis 3 descreve a rebelião de Adão e Eva contra Deus e contra Seus
mandamentos. Desde este tempo, o pecado tem sido passado através de todas as
gerações da espécie humana e nós, descendentes de Adão, herdamos dele o pecado.
Romanos 5.12 nos diz que através de Adão, o pecado entrou no mundo e assim a
morte veio a todos os homens, porque “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
Através de Adão, a inclinação inerente ao pecado entrou na raça humana e os
seres humanos se tornaram pecadores por natureza. Quando Adão pecou, sua
natureza interior foi transformada por seu pecado de rebelião, trazendo a ele
morte espiritual e depravação, que seriam passadas a todos os seus descendentes.
Os humanos se tornaram pecadores não porque tenham pecado, mas pecaram porque
já eram pecadores. Esta é a condição conhecida como pecado herdado. Assim como
herdamos características físicas de nossos pais, herdamos nossas naturezas
pecaminosas de Adão. O Rei Davi lamentou sua condição de natureza humana
decaída em Salmos 51.5: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me
concebeu minha mãe.””14]
14. O texto entre
aspas foi extraído de: https://www.gotquestions.org/Portugues/definicao-pecado.html
2. A transferência da
culpa. Após pecarem
contra Deus, e serem questionados pelo Criador, Adão e Eva deram respostas que
mostraram a incapacidade deles em resolver o problema do pecado, pois ambos
transferiram suas culpas para terceiros (Gn 3.12,13). Nesse contexto, Deus
havia providenciado uma solução que foi ao encontro do drama do casal: cobrir a
sua nudez com a pele de um animal (Gn 3.21). Naquele instante, o Criador "transferiu"
a culpa pelo pecado dos nossos primeiros pais para um animal inocente, cujo ato
simbolizava o sacrifício perfeito de Cristo para salvar a raça humana,
"cobrindo a nudez" do pecado do homem (Hb 9.22b). [Comentário: Foi Deus quem primeiro
derramou sangue. Em Gênesis 3.21, lemos que Ele fez túnicas de peles para Adão
e Eva. É óbvio que Deus providenciou essas peles matando animais, e o padrão de
sacrifício animal do Velho Testamento certamente poderá sustentar essa
conclusão. Assim, a questão que nos encara é: "Por que Deus matou os
animais? Por que o derramamento de sangue?" Quando Adão pecou, não
apenas ele, mas sua esposa, toda a sua descendência e a criação inteira (a
terra e todos os seus habitantes) foram afastados de Deus. Essa alienação e a
sua rebelião afetaram os animais, assim como os homens, o que pode ser
facilmente visto pelo fato de que os animais, que deveriam comer apenas ervas
(Gênesis 1.30), agora comeram uns aos outros. Adão não estava em comunhão com
Deus. Estava com medo. Sentiu a sua nudez e a ira iminente de Deus sobre ele
(Gênesis 3:7-8). Seguindo isso, em Gênesis 3, vemos o pronunciamento do
julgamento de Deus e de todas as penalidades do pecado. Mas, no meio desse
julgamento, vemos um ato de Deus (fez túnicas de pele) para prover uma
necessidade do homem (e eu estava com medo, por que eu estava nu; e eu me
escondi). Agora, essa foi uma atividade encerrada em si mesma ou isso teve um
significado mais profundo? De acordo com Hebreus 10 e muitas outras Escrituras,
esse primeiro derramamento de sangue teve um significado mais profundo e mais
maravilhoso. Vemos que os sacrifícios de sangue tiveram uma relação com a
purificação do pecado (Hebreus 10.1-2). Aprendemos que o sangue de touros e
bodes não podem tirar os pecados (Hebreus 10.4). Então, aprendemos que o sangue
de Cristo de fato tira o pecado (Hebreus 10.10; 13.12). Agora, com essas duas
verdades opostas em mente, retorne a Hebreus 10.1 e você verá a proposta de
Deus ao sacrificar os animais (derramando seu sangue) e todo sacrifício do
Velho Testamento. Foi para testemunhar (em símbolo) o sacrifício reconciliador
de Cristo15.]
3. Satanás esmagado e o pecado
vencido. Deus anunciou no
Éden o que se denomina de protoevangelho, isto é, a primeira vez na história em
que é proclamado o projeto definitivo de Deus para a salvação do ser humano. O
Altíssimo jamais abandonaria o ser humano à própria sorte. Embora Satanás
tentasse eliminar o homem de vez, seu intento não passou de uma simples
tentativa de "morder o seu calcanhar" (Gn 3.15). Mas, por intermédio
da salvação outorgada na cruz. Cristo esmagou a cabeça da "Serpente"
provendo a solução definitiva para o estado caído do ser humano. A peçonha do
pecado que Satanás tentou passar à humanidade foi aniquilada pela morte
redentora de Cristo. O Criador prometeu salvação e deseja que todo ser humano
seja salvo (1Tm 2.3,4), apesar da condição de rebelado, de pecador e de inimigo
de Deus. [Comentário: o
texto de Gênesis 3.15 pode ser considerado a mais antiga promessa de Deus ao
homem caído. Depois do pecado e antes de qualquer outra providência histórica,
o Senhor Deus prometeu ao homem e à mulher que o seu resgate viria do seu
Descendente. Na verdade, essa não foi uma promessa diretamente dada a Adão,
senão à serpente e por detrás dela a Satanás, visto ser o complemento da
palavra de maldição àquele que fora o incitador do pecado16.
Com a possível exceção de João 3:16, nenhum versículo na Bíblia é mais crucial
e definitivo do que Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre
a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe
ferirá o calcanhar.” Como escreve Alec Motyer: “O todo da Escritura não está
embutido em toda escritura, mas podemos esperar admissivelmente que toda
escritura prepare e dê abertura para o todo. Isto é o que acontece em Gênesis
3:15 “(Look to the Rock, IVP, p. 34). Várias questões importantes emergem de
repente: Primeiro, estabelece um princípio que percorre todo o Antigo
Testamento, criando a expectativa de um Redentor, que seria um descendente (a
“semente”) de Adão e Eva. Eva, portanto, prematura e horrivelmente errada,
pensou que seu filho mais velho, Caim, seria o seu cumprimento (Gn. 4:1). Da
mesma forma, em um eco deliberado desta linha de pensamento, a aliança de Deus
com o patriarca Abraão soa a nota de uma “semente” como o badalar de um sino de
igreja (Gn. 12:7; 13:15-16; 15:3, 13, 18; 17:7-10, 12, 19; 21:12; 22:17-18; e
assim por diante). Ninguém ao ler a Bíblia pode perder o fio da meada: Deus
está fazendo algo na história de Israel cuja origem está numa promessa feita no
Éden. Quando Maria descobre que está esperando um bebê, Gabriel anuncia-lhe a
respeito de seu futuro filho: “Ele será grande” (Lucas 1:32), claramente
pegando uma frase já dita a Abraão e Davi (Gn. 12:2; 2 Sm. 7:9). O “Ele” é
Jesus, é claro. A Vulgata Latina traduz “ela”, implicando que era Maria, mas
esta foi uma exegese do interesse do dogma. Não é a mulher que conquista, mas
sua semente. Em segundo lugar, estabelece os parâmetros pelos quais Deus irá
redimir o seu povo dos seus pecados. Desde os primeiros tempos, Gênesis 3:15
tem sido chamado de proto-Evangelho, porque é a primeira indicação da intenção
redentora de Deus após a queda no jardim do Éden. Quando Adão e Eva falharam em
obedecer os termos do pacto das obras (Gn 3:6), Deus não os destruiu (o que
seria justiça feita), mas em vez disso revelou Seu pacto da graça a eles,
prometendo um Salvador (Gn. 3:15), aquele que restauraria o reino recentemente
destruído. O método da graça de Deus é caro: o calcanhar do Salvador será ferido.
Evidentemente, esta é uma metáfora, a qual, no contexto, deve ser contrastada
com o golpe que a serpente recebe (o esmagamento de sua cabeça), mas é
imediatamente aparente o que isso envolve — o derramamento de sangue
substitutivo. Isso parece ser o que está por trás da provisão de peles de
animais como uma cobertura para Adão e Eva em Gênesis 3:21. Sangue precisa ser
derramado para o pecado ser perdoado, algo que explica porque é que a oferta de
Abel (o primogênito de seu rebanho) é aceita, mas a de Caim (os frutos do solo)
não (Gn. 4:3-5). O caminho está claro agora: “sem derramamento de sangue não há
remissão de pecados” (Hb. 9:22). Em terceiro lugar, este verso estabelece uma
explicação cósmica para a desordem no mundo: Satanás está em atividade. É verdade,
não há menção de Satanás aqui, apenas uma serpente. Adão e Eva são responsáveis
por suas ações e são punidos adequadamente, mas suas ações estão
inextricavelmente entrelaçadas com a malevolência da serpente. Há mais à guisa
de explicação para o pecado do que o “livre arbítrio”. A serpente é uma parte
do que “o Senhor Deus tinha feito” (Gn. 3:1), mas ela já não está mais na
condição que o Senhor a tinha feito. Gênesis delineia um véu sobre as origens e
a natureza dessa rebelião (o pecado existia antes da queda no Éden), e é
revelado apenas parcialmente em outro lugar (1 Cr. 21:1; Jó 1-2; Zc. 3:1-2; e
especialmente 2 Pe. 2:4; Jd. 6). O pecado de Eva foi mais do que algo interno;
ele veio de fora, Gênesis 3:1 parece dizer. Será que a serpente realmente falou?
Por que não? Mas veja como ele cresce na Bíblia até se tornar o grande dragão
vermelho de Apocalipse 12! A serpente é um assassino e um mentiroso (João
8:44), bem como um enganador (2 Co. 11:14; Ef. 6:11). Em quarto lugar, a base
da vitória do reino de Deus sobre o reino das trevas é estabelecida desde o
início. Ela é ecoado por Jesus em Cesareia de Filipe: as “portas do inferno”
estão resolutamente postas contra a igreja de Jesus Cristo, mas Jesus assegura
aos discípulos que a igreja será vitoriosa (Mt. 16:18). A obra de redenção se
desdobra no território ocupado do inimigo, da oposição mortal e incansável de
Satanás e seus servos. A inimizade é de uma maldade e crueldade inimaginável, a
qual ignoramos por nossa conta e risco. A história da redenção não é, em certo
sentido, um suspense ao final, um conto cuja conclusão é incerta até que a
última página seja virada. A natureza exata do destino da serpente assim como o
lago de fogo, não é exposta até o final (Ap. 20:10), mas desde o início seu
destino está selado. O discipulado cristão deve ser trabalhado no contexto da
garantia de vitória, em vez da perspectiva de derrota. Devemos estar equipados
e prontos para a batalha, mas com a certeza de que a batalha decisiva com o
inimigo já ocorreu, e foi vencida!17]
17. Este post foi
extraído de: http://www.thegospelcoalition.org/pt/article/a-importancia-de-genesis-315
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O proto-evangelho A semente da serpente,
que Jesus relaciona aos ímpios (Mt 13.38,39; Jo 8.44), e a semente da mulher têm ambas sentido
fortemente pessoal. Deus disse à serpente: A Semente da mulher te ferirá a
cabeça. Compare a referência de Paulo a isto em Romanos 16.20. A serpente só poderia
ferir o calcanhar da Semente da mulher. De fato, ferir não é forte o bastante para
traduzir o termo hebraico, que pode significar moer, esmagar, destruir. Uma
cabeça esmagada que leva à morte é contrastada com um calcanhar esmagado que
pode ser curado. O versículo 15 é chamado de ‘proto-evangelho’, pois contém uma
promessa de esperança para o casal pecador. O mal não tem o destino de ser
vitorioso para sempre; Deus tinha em mente um Vencedor para a raça humana. Há
um forte caráter messiânico neste versículo.
Em
Gênesis 3.14,15, vemos ‘o Calcanhar Ferido’. 1) O Salvador prometido era a
Semente da mulher — o Deus-Homem; 2) Esta Semente Santa feriria a cabeça da
serpente — conquistar o pecado; 3) A serpente feriria o calcanhar do Salvador —
na cruz, Ele morreu” (Comentário Bíblico Beacon. Vol. 1. 1.ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p. 41).
CONCLUSÃO
Embora o homem tenha contrariado o plano divino,
desprezando o grande cuidado de Deus dispensado a ele no Éden, o Criador
imediatamente lhe providenciou um substituto através da morte de um animal,
apontando, dessa forma, para Cristo. Portanto, no Éden, Deus apresenta
duplamente o Redentor: (1) proferindo a promessa de redenção (Gn 3.15); (2)
sacrificando o animal para vestir Adão e Eva (Gn 3.21). [Comentário: Uma sangrenta guerra está
sendo declarada e Deus irá remir o homem de todo mal, quando este houver sido
destruído. Isso aconteceria quando a ferida fosse feita no calcanhar do
“Descendente”. Essa ferida foi a cruz. Ali, em casa de amigos, o Senhor foi
ferido de morte, mas sua ferida não o reteve para sempre, por isso dizer:
foi-lhe ferido o calcanhar. Foi assim que Deus, em Sua soberania, mostrou Seu
amor ao homem, fazendo-lhe, logo no início de sua queda à miserável condição de
pecador, uma promessa gloriosa de redenção, o “Proto-Evangelho” bendito que
anuncia que Jesus é o Senhor da Criação e dos filhos escolhidos de Deus.] “...
corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando
firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus ...” (Hebreus 12.1-2).
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br